sábado, março 24, 2007

Um livro no fim de semana...

...Sou uma espécie de carta de jogar, de naipe antigo e incógnito, restando única do baralho perdido. Não tenho sentido, não sei do meu valor, não tenho a que me compare para que me encontre, não tenho a que sirva para que me conheça. E assim em imagens sucessivas em que me descrevo – não sem verdade, mas com mentiras –, vou ficando mais nas imagens do que em mim, dizendo-me até não ser, escrevendo com a alma como tinta, útil para mais nada do que para se escrever com ela. Mas cessa a reacção, e de novo me resigno. Volto em mim ao que sou, ainda que seja nada. E alguma coisa de lágrimas sem choro arde nos meus olhos hirtos, alguma coisa de angústia que não houve me empola asperamente a garganta seca. Mas aí, nem sei o que chorara, se houvesse chorado, nem por que foi que o não chorei. A ficção acompanha-me, como a minha sombra. E o que quero é dormir…

Bernardo Soares, Livro do Desassossego
(Obras de Fernando Pessoa)

…Permanecemos aqui neste quarto onde a escuridão é eterna claridade. Fora deste lugar nunca viste o mar.

Mas tudo isto se passou noutro tempo, noutro lugar, e a tua boca deixava na minha um travo de asas salgadas…

…Cansei-me de te sonhar. Cansei-me do sangue e da chuva, da memória dessas rotas difíceis.

Donde te escrevo apenas uma parte de mim não partiu.

Encosto a alma à quilha do navio. Deixo-me ir no vaivém das marés. Da fala. A noite singra a pele. E tu escondias a cara num pano branco e quando fitavas as mãos eu sentia medo de um deus.
Nenhum de nós sabia se o sonho, ou a morte, nos conduziria a algum porto de felicidade.

Não me lembro o que aconteceu a seguir.
A noite deixava-se habitar por um silêncio escorregadio.
Veio-me então ao pensamento o grande porto do sul onde aportaras e dizias ter sido feliz.

Quando te digo que vou de novo partir, perguntas-me: morre-se porquê?

Caminhamos em direcções opostas, caminhamos sem destino pela cidade.
Caminhamos neste espaço de penumbras e de incertezas – onde a fala já não cintila e as palavras são de cinza.

E no meio deste silencio uma ideia de voz, uma treva agarrada à memória.

Foi então que dei por mim a existir para lá da tua morte, como se asfixiasse, mas o passado não é senão um sonho, uma brincadeira com clepsidras avariadas e algum sangue.

Não valer a pena estar triste
Todas as histórias, todas as mortes acabam por se apagar.

Um barco tremeluz nas cortinas do quarto.
O horizonte é negro. A luz do dia extinguiu-se subitamente.
As mãos com que te toco, luminoso afogado, não são verdadeiras nem reais – porque o tempo todo talvez esteja onde existimos. Embora saibamos que nesse lugar nunca houve tempo nenhum…

Al Berto, O último Coração do Sonho
Desenho Google

quinta-feira, março 22, 2007

Preciso de sentir entendes...


Aqueço-te as mãos. – Não! – Porquê? Estão frias!
Toco-te o cabelo agora – não! Porquê? Não posso?
Beijo-te – nem penses! Eu sei. Sou eu a sonhar. Sonho acordado quando estou junto a ti. Não sei sonhar a dormir. Preciso de sentir entendes…



...Faço progressos. Aos poucos aprendo a olhar-te olhos nos olhos. Perco os medos e os anseios. Aos poucos, nos breves momentos em que estamos juntos, te sinto à minha beira de roda de mim. Deixo cair as barreiras. Caem uma a uma, as pedras do muro que construí para me proteger. Dás-te conta do que és capaz. Dás?
Em breves momentos o que transformas em mim. Imagina. Conseguisse-mos parar o tempo e ter um tempo nosso, sós durante um pedaço do tempo. Imagina o que seria de mim sem barreiras sem muros, eu verdadeiro e puro a olhar-te no fundo dos teus olhos. Imagina. Eu sou capaz de imaginar. Imagino-te sempre, mesmo nas horas todas e são tantas em que não sei de ti.


joão marinheiro 2007
Fotografia Miguel Pereira/www.olhares.com

quarta-feira, março 21, 2007

Dos Poemas dos Poetas agora...
Amo-te porque os teus lábios dizem: ama-me.
Beijo-te porque a tua boca suplica que te beije.
Trago-te no sangue,
Nas lágrimas,
No noivado das albas,
Nos véus dos crepúsculos.
Continuaria a amar-te
Mesmo que as ausências não fossem (como são)
O calendário solar das memórias que me cabem.
As memórias e o jeito de interroga-las
Pergunto quanto ousaria se estivesses presente:
A harmonia dos gemidos,
A insurreição dos rios
O incêndio das palavras.
Toco o meu corpo e converso com as tuas mãos
Decifro um a um (serenamente) enternecidamente
Os insubornáveis caracteres do desejo.
«Ama-me como se hoje fosse o primeiro
Ou o ultimo dia do mundo», dizes.
E eu deito-me sobre a tua pele
E cavalgo contigo até ao cansaço final.

Hugo Santos

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Podíamos saber um pouco mais
da morte. Mas não seria isso que nos faria
ter vontade de morrer mais
depressa.

Podíamos saber um pouco mais
da vida. Talvez não precisássemos de viver
tanto, quando só o que é preciso é saber
que temos de viver.

Podíamos saber um pouco mais
do amor. Mas não seria isso que nos faria deixar
de amar ao saber exactamente o que é o amor, ou
amar mais ainda ao descobrir que, mesmo assim, nada
sabemos do amor.

Nuno Júdice

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Amo devagar os amigos que são tristes com cinco dedos de cada lado.
Os amigos que enlouquecem e estão sentados, fechando os olhos,
com os livros atrás a arder para toda a eternidade.
Não os chamo, e eles voltam-se profundamente
dentro do fogo.
- Temos um talento doloroso e obscuro.
construímos um lugar de silêncio.
De paixão.

Herberto Hélder

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Estávamos no mês de Março
Na caixa do correio, encontrei um postal
Ilustrado: Menez (guache s/papel).
Era teu. E, entre outras coisas
Que guardei para mim, dizia:
Gosto de ti quando sorris ao meu embaraço
De tanto te gostar. Gosto de ti
Mesmo quando estás longe, no alvoroço
De te ter perto. Gosto de ti,
Mesmo quando não parece
E sempre mais do que parece
Que noite morna me nasceu
Então, no corpo como se fosse estio?


Graça Pires

segunda-feira, março 19, 2007

Das pequenas coisas fortuitas…


...Meses depois encontraram-se. Ele não lhe disse das vezes que lhe apeteceu ligar-lhe.
Foi um encontro fortuito, nada diferente dos poucos encontros anteriores, sempre de fugida, o tempo contra eles, as horas que passam demasiado depressa, a pressa de sair dali, o sitio fechado, não se vê o mar e ele sente-se deslocado no tempo e no sitio, só ela o acalma, mas estão distantes de novo, demasiado distantes. Ele não lhe disse que estava maravilhosamente bonita, que num repente lhe sentiu as mãos frias, que gostaria de lhe ter dado as mãos, mas nunca se tocam as mãos.
Que se passou neste tempo de ausências? Que se vai passar a seguir. Só o tempo o dirá. O tempo esse paliativo que cura. Que avança sem nós, inexoravelmente preciso. Só nós nos deixamos ficar, nos perdemos, nos desencontramos. O tempo não, encontra-se de hora a hora nos minutos e nas horas, todas, a somar às horas da ausência que se sente nos dois. Tudo mudou. Eu estou ali sentado na árvore, junto ao pequeno canteiro de relva, onde as rolas pousam a procurar sementes para saciarem a fome ou a vontade da repetição dos gestos ensinados pela sobrevivência da espécie. Eu estou ali, como fantasma que observo no tempo as distâncias que não se vêem mas se sentem por dentro. Não lhes posso dizer, não lhes posso falar. Só observo, é essa a minha função. Observar pessoas. Eu sou o poeta, portanto não existo, sou uma criação literária. Neste momento, nesta criação habito na árvore. Sempre gostei de árvores, nem sei como se chama esta, mas é um pequeno detalhe, já me habituei a ela. Não sei do tempo que aqui fiquei esperando.
Não lhe disse ele que esta pode ser a despedida. A partida, finalmente cumprido que foi o desejo de a olhar uma última vez. A entrega do livro esquecido faz tempo. Faltou na verdade que eu vi o darem as mãos. As mãos nunca se tocam. Só o olhar acaricia os sentidos. O olhar que diz tanto.

...Nunca lhe diz nada, quase nada, limita-se a estar ali, deslocado no tempo e no espaço, e depois parte de novo. Parte cada vez mais. As idas são sempre ausências prolongadas. Eu fico ali, espero que voltem. Desespero para falar verdade. Mas não existo. Não tenho pensar, não tenho sentir. Não tenho opinião. Estou ali para observar pessoas. Observo pessoas. Tenho a pequena particularidade de poder observar por dentro das pessoas, corro-lhes os circuitos. Quer dizer, diluo-me no sangue, vou a todos os sítios dos corpos. Conheço todos os segredos. Sou um guardião de segredos e de sentires, mas eu não sinto nada, não existo, sou criação literária. Às vezes querem que eu exista. Sobrevivo durante uns tempos, como as modas. Depois sou arrumado de novo esquecido. Eu sou todas as palavras…

As palavras...

João marinheiro 2007

Foto Barcoantigo

sábado, março 17, 2007

Um livro no fim de semana...

Vai

Quero escrever e não sei
Uma ultima vez para ti e não sei
Quero fechar a porta da partida
Usar a palavra, o papel, a escrita
E não sei

Não sei dar-lhes o tom solene
As cores do frágil momento que segue a tempestade:

Tu a partires sem quereres, indo
Eu a fingir que não sentia, fingindo
Para depois o tempo valer
Um punhado de segredos sem segredo
Só o resumo dos medos
A angustia acelerada das mutuas perguntas em corpo de culpa
Justificações amarelecidas, fuga e represálias

É assim outra vez
Mais uma vez igual

sexta-feira, março 16, 2007

Olhos nos olhos!

Difícil

Amo-te.

- A palavra!

Vou embora

Já não te espero

Desespero para que venhas

Vou embora porque tenho o olhar cansado

De esperar que surjas entre a vista e

O horizonte imaginário que arde em fogo



Não sei escrever a poesia dos jardins desertos

segunda-feira, março 12, 2007

As palavras de hoje...


As palavras hoje são só para ti

Tuas

Eu volto

Volto às memórias
Aos lugares das memórias
Mesmo breves são boas memórias
Espero que voltes também
Dá-me o tempo para me reconstruir de novo de uma outra forma, de um outro sentir
É isso que queres?
É isso que quero?
O sentir possível
Sentir sem sentimento
Chamemos-lhes assim
Sentir estranho e ausente
A palavra persegue-me como uma obsessão em vida
Eu volto
Volto às palavras porque cada vez me sinto mais só
É isso
Tu não entendes
Eu não tenho forma de te explicar este sentir que me mina as entranhas
Que me mata por dentro
Sou um lobo-do-mar cansado
Cada vez mais cansado
O olhar apaga-se como o farol no alvor da manhã
Às vezes brilha, mas isso é quando te imagino
Imagino-te pouco já, dou-me conta
Por isso volto
Por isso tento imaginar-te no princípio do tempo que já não temos. Será que não?
Temos o tempo adiado
O tempo de amanhã
O tempo de depois de amanhã
O tempo de depois de depois de amanhã
Dou-te a mão
Olhamos para trás
Dás-te conta da distância do tempo que nos separa já
Estas palavras hoje são para ti

Tuas

Só o tempo não…

João 2007
Fotografia Google

domingo, março 11, 2007

És um vinho rubro que sorvo...

Tenho um copo cheio de vinho
Um néctar que embriaga
Um vinho tinto cor de sangue que sorvo em pequeno golos
Enquanto tu
Te desnudas ai bem na minha frente
Sensual
Bela, excitante
Num strip
Ousado
Onde desnudas toda a nudez de teu corpo que imaginei durante tempos
És mestra na arte de seduzir
De excitar
E eu parvo, preso na visão de um corpo perfeito
Fico-me pelas curvas de teus seios
As curvas de tuas nádegas firmes, teu sexo
Que deslumbradamente me apresentas
Como um néctar ou uma fruta proibida
Rosada e madura.

Bebo dois tragos longos deste vinho
Cheio de sabores frutados a frutos secos ou aromas silvestres
Com taninos persistentes que perduram na boca numa dança de sabores
Excitas-me despoduradamente num propósito pré definido neste momento
Em que eu perdido inebriado pelo vinho
Me dispo de vergonhas, timidez ou inexperiência
E te observo
Excitado. Pronto!
No máximo dos máximos retidos a custo…
Quero-te agora. Digo-te. Confesso-te o meu desejo carnal
E tu!
Segura de ti.
Dominadora!
Abres o rosto num sorriso largo, casto, com a candura de uma menina inocente encerrada num corpo de mulher na idade da loba e foges, foges de mim
Do desejo animal, do desejo carnal, do meu desejo intenso…
Quero-te no momento, excitas-me, excitas-me para lá dos sentidos ou das pulsões involuntárias
Fico com sede
Bebo mais um trago deste vinho néctar dos deuses, rubro
E quero-te, e foges de novo entre gargalhadas estéricas.
Porque me fazes isto?
Porque me provocas com essas poses lânguidas, sensuais, excitantes
Vejo teu sexo excitado brilhando por entre as luzes desse palco onde te encontras
Em humidades que eu queria sentir na minha língua
Ou sentir-te minha agora que te desnudas despuduradamente
Ai desse lado do vidro que nos separa…
Faço um esforço para imaginar o sabor de teu corpo
O sabor dos teus beijos soltos e livres
Quero-te! Desejo-te!
Como se fosses uma gaivota branca e cinza voando nos céus
Quero-te assim neste preciso instante perfeita em que te sinto no peito.
Meu amor…
Entrego-me nas tuas mãos
Para que me aceites
Assim com defeitos e ausências
E bebas comigo o resto deste vinho perfeito
Em cor de sangue
De coração que sente e bate perdido no peito.
Deixa-me.
Deixa-me afastar as cortinas ou as vidraças que nos separam
Porque és a primeira por quem me embriago com vinho
Com a luxúria e o sabor do teu sexo entreaberto nas pernas
Tuas, perfeitas que afasto
Enquanto me deixo descansar por dentro de ti
Agora, que é como te imagino em danças
De corpos, num bailado sublime de lençóis e gemidos e suores.
E porque me tremem as pernas, e porque me tremem os dedos, e porque não sinto já a dor no peito dum coração desarvorado em rotações loucas
Venho-me em ti
Num espasmo louco de sémen
Que perdura quente etéreo único no momento
Em que gritas de prazer
Me cravas as unhas na pele
E te deixas abandonada, tremendo, ofegante, ir comigo num orgasmo místico
Onde nos perdemos e deixamos de saber onde estamos
Porque escutamos os gemidos suaves
Ou o som abafado e rápido de corações desconhecidos que batem
Ininterruptos diariamente
Na noite e nos dias dos amantes
Que são todos os dias em que tu
Descaradamente te desnudas num strip estudado ao pormenor
De modo a seduzir-me a mim inocente e casto e puro de actos
Perdido num copo dum vinho envenenado
Com o sabor de teu sexo que desejo
E me mostras assim livre com um sorriso no rosto…
Enquanto te passeias nesta sala em que habito
Dentro de mim
E neste copo de vinho que saboreio
Porque és um vinho rubro que sorvo…

João marinheiro 2006

Como me sinto sem ti…

E eu?
Sabes como me sinto sem ti?
Sem o aconchego da tua voz em mim…

Ando perdido aqui
Cheio de amor transpirando por todo o corpo
Sinto-me vazio sem ti, não somos mais nós…

Estás cada vez mais longe.
Alem, é a distancia que nos separa…
Falta-me a visão para distinguir a tua silhueta inconfundível na multidão
Correr para ti abraçar-te,
Perder-me de encontro a tua boca ávida da minha…

Andas muito calada eu sei
Gosto de ti assim, um silêncio cúmplice
Onde se escuta o mar do silêncio azul profundo
E o bater compassado dos nossos corações em dueto dizendo
Amor! Amor! Amor! Amor!

E porque hoje chove,
E porque esperavas a chuva
Damos as mãos
Vamos sentir a frescura das gotas uma a uma no rosto frias…
Sentir o frio como um gelo que escorrega no peito.

Existimos de roda um do outro, num passe de mágica
Sempre no momento em que o nosso olhar se encontra
No momento em que o nosso corpo se toca
No momento em que o príncipe vem a cavalo e arrebata a cinderela
No momento em que a história deixa de ter um final feliz
E
As palavras
Perdem a candura da inocência

Somos sós, o mar e mais nós…
Resta-nos a palavra para trazer de volta o amor
O teu amor que busco, inventado nas frases tuas em versos…
Que sabem ao salgado do mar, à flor do sal frágil
Brilhando no rosto.
O teu rosto que emolduro na memória com carinho extremo
As lágrimas que vejo assumidas e brilhantes como a lua
O desejo partilhado.
Tantas, mas tantas vezes adiado…

Hoje também eu me sinto em duo
Separado por um fio frágil invisível que me divide ao meio
E o meu meio, passa por dentro de ti, sem te tocar
Maravilha da técnica, da física, ou outra coisa distante.
Fico louco de desejo
Quero-te agora louca
Ou amanhã, doce apaixonada…

Quero-te em dualidade
Doce e louca
De preferência fresca como a água onde te banhas
Ao alvor da manhã ou no acejo da noite
Em qualquer das quatro estações do ano
Mas…
Também eu prefiro o verão, onde te contemplo nua ao sol doirando…

E porque hoje te apetece ser noite calma
Dou-te a mão, levo-te comigo pela beira-rio
Vamos ver os peixes cor de prata brilhando à lua
E sonhar, um no outro
Esperando que a água doce
Encontre o mar ausente por fim…

João marinheiro 2006

sábado, março 10, 2007





Um livro no fim de semana...

…Estou sozinho. Sozinho com o coração em bocados espalhados pelas tuas imagens. Já não posso oferecer-te o meu coração numa salva de prata. Alguma vez o quis? Alguma vez o quiseste? Dava-me agora jeito um deus qualquer para moço de recados. Um deus que te afagasse os cabelos e me recordasse como eram macios. Um deus que me libertasse desta imagem fixa do teu corpo…

…Eu só queria ver de que material era feito o teu amor por mim. Precisava de escangalhar o teu coração para o fazer encaixar no meu…Mas não sei como.
Sem o teu coração não consigo amar – não me abandones outra vez. Logo eu, que amava o mundo inteiro, não é? Amar em abstracto é muito mais ágil que amar em concreto…

Fazes-me falta, Inês Pedrosa

sexta-feira, março 09, 2007

Volta...


…Nenhum deles sabe de onde vem o incomodo daquela falha súbita na intimidade, aquela quebra como uma fenda na paisagem. Ambos esperam que o outro volte a reunir o que parece separado, mas nenhum deles sabe realmente a distancia entre ambos…Vale sempre a pena conhecer pessoas que não se dão à primeira. Gostei de o descobrir, só tenho pena de ter esta sensação de ter deixado tudo no princípio, mesmo a amizade. Há muito tempo que não me apetecia não querer nada de especial de uma pessoa, só a existência dela, a companhia. E, contudo, provavelmente essa pessoa desapareceu já na minha vida…

Aquariofilia, Luís Soares
Fotografia de Zé Pedro/www.olhares .com
…Já me habituei à tua ausência
Ao silêncio do telefone
À caixa de mensagens vazia de notícias tuas
Aos poucos vai a tua imagem desvanecendo-se
Não sei se fico feliz ou triste
Já me habituei a sintetizar as palavras
Deixei de falar ou escrever-te…

sexta-feira, março 02, 2007










Um livro no fim de semana...
…Daqui a nada o dia começará a clarear, abrirá os braços longos sobre as sombras e expulsará a noite, daqui a nada fecharei a janela, a madrugada despertará em mim o frio que ainda não sinto, os arrepios chegarão inevitavelmente, percorrer-me-ão as costas como unhas atrevidas de mulher, daqui a pouco, sei-o, as pálpebras vão começar a piscar mais depressa tardando em adaptar-se à luminosidade em lâmina da manhã…Já não sei há quanto tempo ando para aqui, agarrado ao leme do volante à laia de um velho e fatigado lobo do mar…

In Daqui a nada

Dizes que estás. Mas cada vez estás menos. O vazio instala-se em nós e isso assusta-me. Aprendo a imaginar-te. A falar-te. Aprendo a aprender-te totalmente de novo, e quando surges depois desta aprendizagem toda, este exercício mental solitário. Quando surges dificilmente te reconheço por estares no meio de nada. Sem referencias a terra. Sem um horizonte visual. Encontro só o horizonte imaginário falível, que me permite traçar as coordenadas na carta e rumar até ti. Sei que vou ao engano. Sei que a rota está mal calculada. Também não corrigi a declinação magnética. A agulha gira imprecisa. O barco singra como o bêbado oscilando para ambos os lados e eu desisto!Volto ao rumo certo na carta às viagens de ida e volta. Até porque o barco já não existe. Vendi-o. E o marinheiro que te fala é uma criação literária. Um invento. Salva-se a mão que segura a pena que é real e o coração que sente. Tudo o mais é pura ilusão. Pura!
João marinheiro 2007
Fotografia Google
Por dentro de mim existem dois eus
Um que me renega outro que vai em tua busca
Espera! Não te assustes! Sou eu
São as minhas memórias só…

As palavras pequenas

Habituaste-me a um silêncio espesso
Nestas paredes frias onde me deixo ficar cercado e te invento de memórias
Habituaste-me a não saber de ti e eu verdadeiramente não sei porque me perco aqui onde te escrevo recolhido que estou da luz do sol, do vento e da chuva
E esqueço o mundo
Esqueço-me de viver
Já não te chamo
Nem as palavras pequenas são importantes
Um dia morro e vais ter saudades…


João 2007

joão marinheiro

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