sexta-feira, novembro 25, 2011

Dizias-me...



Dizias-me á dias em jeito de a querer meter conversa; “escreve qualquer coisa aqui”… e eu depois de ler estou em branco, vazio de palavras ou dizeres ou sentires. Estou só e aqui, mas é como se não estivesse. É o corpo que cansado ancorou aqui nesta espécie de fundeadouro de emoções. Só o corpo porque a alma essa anda vogando no vento ao sabor da maresia ali no oceano largo.
As emoções pregam-nos partidas e bloqueiam as palavras e os pensamentos e ficamos em branco, rubros por fora, acalorados, a disparar o sangue nas veias ou então numa espécie de catarse narcotizante que asfixia o sentir.
Já não te sinto é isso. Deixei de te sentir à tanto tempo que já não me lembro. Tenho algumas dúvidas que tenhas existido, que não sejas só uma projecção do cérebro, um holograma de imagens e não mais que isso. Tenho duvidas de mim mesmo, da minha capacidade de discernimento à reacção a um simples acto teu de provocação a tentar que eu fique de outra cor que não o branco, ou as palavras se soltem dos cabos onde se encontram enleadas num emaranhado de ausências.
Eu sei que sabes que um dia te disse que o amor para mim era branco, que tem a cor da pureza. Mas nós já perdemos a inocência do amor e das palavras e dos actos. Fomos a perdição um do outros ambos sabemos e já não temos remédio ou mesinha caseira que nos cure ou nos faça ficar de outra maneira que não esta, branca esvoaçante como a roupa a secar no fieiro, ali na Afurada dos tempos antigos.
Somos um branco anónimo desbotado pelo tempo, e nem esta tentativa de retomar as palavras é coerente ou permite que me liberte.
As vezes, sim, sei que deve ser quando durmo, sonho-te e acordo com um sorriso, aos poucos o sonhar volta, quase que juro, algumas vezes sinto o teu calor, o teu corpo, ou é o meu sangue que ferve fulminado por febres e me engana.
As emoções pregam-nos partidas…




S. Paio Antas 2011


Fotografia de barcoantigo em 2005

joão marinheiro

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