Chegaram os tornados
A força do vento, o rugido do mar
E o barco range em estalidos de medo na noite
Os relâmpagos cortam o negro da madrugada
E as velas estivadas todas, repousam nas vergas
Os brandais gemem em silvos como cordas de guitarra afinadas
ao limite
A proa afunda na cava da vaga e o velho navio lentamente
galga a onda e o medo
Estou ao leme, esta roda imensa onde me agarro com as duas
mãos
Enquanto o sueste me protege da água que cai em bátegas
doces do céu aberto e negro
É uma travessia sem rumo mar adentro a fugir da tempestade
Levo um sorriso nos lábios e o teu perfume no pensamento
És a minha estrela polar, a minha constelação, o meu norte
Neste mar branco de espuma e sal o leme obedece certo
A todos os mandamentos rápido a fugir do naufrágio
O arnez segura-me como um cordão umbilical
E o motor estremece sob os meus pés
Em círculos perfeitos de 900 rotações por minuto. Três nós…
Singramos lentamente, quase parados, quase.
Tenho Leça por estibordo, o farol em relâmpagos ritmados e
certos
Conheço-lhe a cor e forma mesmo na noite
Como te conheço a ti
As formas de olhos fechados, e o toque da pele e o teu
cheiro a maresia
O redondo dos seios.
Chegaram os tornados
É inverno adiantado no mar.
João marinheiro Março 2013 S. Paio de Antas
Fotografia de Rui de Sousa www.olhares.com