segunda-feira, agosto 13, 2007

Espero-te ainda…


Tu não sabes que do outro lado do mundo eu penso em ti
Que te sinto em cada batida do coração a ressoar por dentro dolorido
Que te desejo intensamente. Um vazio estremo
E que o olhar morre lentamente
E as palavras dão à costa naufragadas na memória
E que já não tenho memoria do tempo dos amantes de uma noite.
Não podes saber que as noites agora são sombrias
Os braços de luz do farol se apagaram
O rio secou assoreado nas lágrimas salobras
O mar recolheu a uma terra estranha
E a linha de costa
É uma beira-mar juncada de sargaço morto
E que eu estou aqui ainda
Sentado na beira-rio esperando por ti
Enquanto o frio me invade os sentidos
O mar se recompõe da noite longa e acorda em maresias de sal
A névoa se instala abraçando o mundo
E eu cego tacteio o rumo que me afasta de ti
Espécie de suicídio negro na estrada.
Tu não sabes
Da minha vontade de escutar a tua voz
De te sentir no olhar
De te amar outra vez
Tu não sabes porque és espécie de andorinha que partes
Porque o Verão é doido e parece Outono e te desnorteias
E assim inicias o regresso sempre
E eu fico aqui no outro lado de mim a olhar o mar na noite e o rio e a foz
E o farol apagado que me guiava até ti na lonjura da memória dos tempos…


João, Praia de Fornelos 2007
Fotografia de Pedro Ferreira

7 comentários:

Sendyourlove disse...

Era isso tudo que me apetecia dizer, mas não sei usar assim~de modo tão perfeito as palavras.

aquilária disse...

belo poema.
é sempre estranho constatar como a ferida aberta pelo peso enorme de uma ausência pode dar asas às palavras com que a descrevemos.

deixo-te um abraço

Anónimo disse...

Olá João!
Vim conhecer este teu espaço, retribuindo assim a tua simpática visita.
Gostei muito do que li, os teus posts são de rara sensibilidade.

Maria disse...

Apetece-me virar as palavras ao contrário e dizer que ela sabe, sim, da tua vontade de a escutares, de a olhares e de a amares outra vez...
Pelo menos hoje...

Um abraço, ainda a chover de mim

Anónimo disse...

As tuas palavras são enganadoras!!! há há há!!!! Vá-se lá saber porque!!! Talvez porque da maneira que são aqui expostas podem atingir muitos corações... Não é grisalho????

Eremit@ disse...

amigo, vim a ler até aqui estes poemas de amor e saudade.
Sobre a foto no Palavra Puxa Palavra, não são pombos, mas rolas.
Boa semana e fraterno abraço

Bruxinha disse...

Esperar ao frio é bom! Desperta os sentidos e faz bem à pele...

joão marinheiro

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