terça-feira, abril 28, 2009

noite de ausência


Se estivesses aqui, namorava contigo
Nesta noite estrelada de céu limpo.
Beijava teus lábios ternos
E via-me no teu olhar brilhante como as estrelas no céu negro.
Como te queria aqui ao meu lado neste instante.

Assim na tua ausência porque és um sonho ou te imagino
Limito-me a escrever-te
A inventar-te nas palavras
A querer-te nas estrelas
A sonhar fazer amor contigo deitados na areia da praia
Nesta noite limpa e estrelada…

Se estivesses aqui, namorava contigo
Dizia-te ao ouvido
Tudo o que não desabafo no papel.
Porque o que eu queria mesmo era que aqui estivesses
Ou que me desses noticias tuas,
Não esta ausência em suspenso
Este querer e não ter, e não saber que fazer.

Assim na tua falta porque és um sonho ou te imagino
Contemplo as estrelas lá fora
(…E sentado nesta velha poltrona passeio o olhar pela TV.
Passa um filme que fala do fim do mundo, e do amor que resiste…)
Saboreando um whisky, copo atrás de copo até acabar a garrafa
Ou curar a saudade da tua ausência.



João marinheiro
Praia de Fornelos, 2003

Fotografia de Barcoantigo em 2008

domingo, abril 12, 2009

a tua ausência...


...nem sempre escolho a melhor altura ou o melhor modo de falar da ausência, a ausência que consome por dentro, a saudade que se instala. Nem verdadeiramente sei o que é a saudade. Essa palavra que se canta em fado como que a chorar tal a emoção, tal a intensidade, pois as palavras custam a sair…
Como definir a palavra ou o estado de espírito que fico quando penso, quando sinto…
Como dizer-te para que entendas o difícil que é atravessar a tal ponte pênsil invisível feita de três cordas estendidas por sobre o rio das emoções que sinto. Como fazer-te compreender. Como eu entender isto de novo que sinto como uma repetição, uma espécie de dor…lentamente a evitar a paixão.
Tenho de me socorrer do que escrevi faz tempos nem sei….
E dizia assim:

Saudade

O amor ausente é saudade.O amor em silêncio é saudade.O amor gritado, em gritos mudos, é saudade.O amor em poesia, é saudade.O amor em palavras escritas, é saudade.É ela, a saudade, que anda de roda um do outro. E esse rodar, chama-lhe saudade, mas é amor de verdade...

Pois nem sei se é. Não sei e não busco as respostas ou estão implícitas nas palavras e eu não leio, ou finjo porque o poeta é verdadeiramente um fingido, e eu aprendi com o poeta na sua escola da vida dura e sofrida. E também porque já me habituei por conta própria a sentir a ausência, assim estou fortalecido e vacinado acredita. E porque já escrevi em tempos não muito distantes acerca da ausência, estas palavras que se calhar já leste pois são públicas mas recupero nesta carta que te envio, e dizem assim, elas, as palavras que eu senti um dia…

-
“Já me habituei à tua ausência. Ao silêncio do telefone. À caixa de mensagens vazia de notícias tuas. Aos poucos vai a tua imagem desvanecendo-se. Não sei se fico feliz ou triste…Já me habituei a sintetizar as palavras. Deixei de falar ou escrever-te. Sempre que te recordo faço um esforço, cada vez és mais difusa e distante, resumida a um nome que soa estranho. Quero lá saber que não te importes de mim. Quero que te sintas feliz onde te encontras. Tudo o mais são reflexões ou pensamentos ténues. Nunca fizeste parte de mim. Renasci quando te encontrei, mas disso só eu me dei conta. Um dia escrevi que nos tínhamos encontrado na encruzilhada da vida. Uma linha em curva descendente ou em cruz. Hoje não sei quem és e teimosamente porfio em que sejas sonho, e esqueça o sabor de teus lábios suaves. O brilho de teu olhar. O perfume de teus cabelos. A tua voz. A leve tremura de teu corpo quente. Deixo de emoldurar o teu rosto com minhas mãos. Já não nos fitámos de olhos nos olhos.
O importante que era escutar a tua voz! Não o murmúrio constante no vento, imaginando que és tu. Não uma espera de noticias do outro lado da linha. Esta é, dou-me conta, uma linha paralela em todo o comprimento. Jamais nos vamos encontrar…
Teimosamente guardo-te com religiosidade assumida num dos compartimentos do cérebro onde a ciência não chegou ainda. Assim este lugar mágico é só meu, unipessoal, sem número de contribuinte. Virgem. De neurónios em alvoroço ou nervos à flor da pele. Pouco me resta já, que não este desabafo. Estás diluída na luz e no tempo meu amor e confesso, este não é o meu tempo pois que passo pela vida sem me dar conta ou me importar, o meu cérebro treinado vai ciclicamente apagando os registos dolorosos, espécie de ordenador onde um antivírus, de vez em quando faz as reparações necessárias. Guardo só em lugar de acesso com password, a confissão do que sinto. Foste o meu anjo luz que me ofuscou com a frescura da novidade. O renascer. Não foste a cura da ausência mas o unguento que atenua a dor que sinto. Tudo o mais, são palavras escritas disfarçando o sentimento…
- Eu, estúpido!
Teimosamente sinto-me triste e escrevo em tua memória. Não sei se mereces que te guarde na memória. Tu não tens memória. Não és nada dentro e fora de mim. Afora isso és todos os desejos que sinto. Todas as pulsões do sexo e da lascívia Imaginadas numa viagem por mares de gelo e ventos frios.
- Ai sim!
Teus cabelos finalmente soltos, podem espalhar o perfume e suavizar a agrestia do lugar. Já não sei se cheiram a jasmim, ou ao feno dos prados. Não sei se habitas um bosque ou uma cidade em betão.
- Mas diz-me!
Que eu ainda assim quero mudar-me para um sítio onde sinta o cheiro de teus cabelos ou em última instância, um lugar onde o cheiro me leve até ti!
Sabes que gosto das planícies disse-te ao ouvido um dia. Sabes que gosto dos lugares distantes e de ouvir os grilos no calor do verão. De colher cerejas ou apanhar castanhas no Outono. Sabes mas não te importas, por estes gostos simples não fazerem parte de ti…
És uma espécie de monumento em granito e bronze na minha vida, feito de materiais nobres. Portanto eterna. Acompanhas-me em todos os momentos. Já te deste conta do importante que és!
Não paras um minuto sequer para pensares ou me dedicares o momento!
Não sou nada dentro e fora de mim. Como diz o Poeta…”Aparte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo”… Mas meu amor, nunca eu fui poeta nem ouso ser, estou portanto em desvantagem. Mas sinto como Ele. O seu amor por Ofélia contido. O seu amor desespero. O Amor suicídio…
Pena não te chamares Ofélia. Ou eu não ser guarda-livros.
No momento invento as palavras. Sintéticas.
-Não te amo!
Mas sinto a tua ausência confesso.
Acusas-me de andar constantemente a repetir-me no que sinto. Penitencio-me!
Tenho de pedir desculpa. Não encontro sinónimo para o amor, ou a sua ausência, ou o que sinto. A sua dolorosa ausência, pois o que tenho pleno, não me chega por não ser o teu. Tenho eu culpa de não encontrar palavras?
És, sabes disso, já to disse ao ouvido, a minha eterna namorada. Assim escrevo-te estas letras, quando quero desabafar. Uns dias triste, outros alegres. Na maioria dos dias acompanhas-me nas viagens que faço Porto-Lisboa-Porto. Quilometro após quilómetro. Eu deixo-me ir abandonado neste lugar de segunda classe. Desperto em sobressalto, pelo som sempre igual das rodas em aço nos carris. Este é o comboio Diesel que me tem levado em viagem. Um imenso inter-rail sempre em direcção ao sul…
Dou-me conta tardiamente que o comboio me afasta de ti. Vai na direcção errada. Mas tu não te importas, ou não te dás conta, ou disfarças a lágrima…
Já não sei verdadeiramente quem és
E interrogo-me?
Porque continuas a ocupar os outros trinta por cento do meu corpo?
E eu aqui! Teimosamente de roda das palavras procurando disfarçar o que sinto.
Escrevendo-te este monólogo que nunca vais ler, por ser um monólogo interrogo-me?
Porquê tu?
Já não sei teu nome. Por onde andas. Quem amas?
Porquê tu?
Espécie em extinção. Aventura dos livros ou dos sonhos.
Pintura de artista anónimo em nu artístico onde reconheço as curvas de teus seios e o azul do teu olhar…
Estranha ausência de mim”…

Que mais te posso dizer para explicar o que é para mim a ausência, a saudade.
Não sei?
Vejo, sinto uma repetição. As palavras estão ai escritas a fogo que queima, que arde lentamente consumindo as energias, poucas que restam, um lume brando e doloroso….
Porque se calhar eu nunca digo o que sinto, espécie de protecção unipessoal.
Assim nesta minha derradeira carta achei que estas palavras que se calhar já conheces poderiam ajudar a definir essa palavra pequena e tão grande por dentro.
Termino porque hoje me alonguei nas palavras…
Com as palavras tuas/dele, Pessoa que tanto gosto – “O mais é nada”!..
E,
Entretanto passa a música dos Clã que me anda nos ouvidos como um ruído persistente, a tal competência para amar… Da qual já falei numa anterior carta

…”Não fosse a minha competência para amar
E nunca teríamos acontecido
Num mundo de competências
E técnicas de ponta
A dadiva da fala
Quase já não conta”…

E depois?


… Não sei se sonhei as palavras. Ainda me perguntas se quero sentir o calor dos teus lábios…





João marinheiro, Cartas 2006 excertos



joão marinheiro

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