quinta-feira, dezembro 29, 2011


..."Às vezes escrevo-te palavras que sinto intensas. Que saem de dentro a esvaziar-me todo, a alma ao avesso de mim, a alma ao comprido como uma queda na rua. Às vezes uma autêntica maré vaza, escoado. Maré viva de amplitude máxima. Como uma praia que já não é a nossa praia.

Ficam as pedras frias desnudas, a descoberto na praia da memória, a tal praia secreta no cabo do mundo que já não é.

Como escrever-te uma carta a falar de saudades sem sentir saudade tua..."

Fotografia de Barcoantigo em 2009

sexta-feira, novembro 25, 2011

Dizias-me...



Dizias-me á dias em jeito de a querer meter conversa; “escreve qualquer coisa aqui”… e eu depois de ler estou em branco, vazio de palavras ou dizeres ou sentires. Estou só e aqui, mas é como se não estivesse. É o corpo que cansado ancorou aqui nesta espécie de fundeadouro de emoções. Só o corpo porque a alma essa anda vogando no vento ao sabor da maresia ali no oceano largo.
As emoções pregam-nos partidas e bloqueiam as palavras e os pensamentos e ficamos em branco, rubros por fora, acalorados, a disparar o sangue nas veias ou então numa espécie de catarse narcotizante que asfixia o sentir.
Já não te sinto é isso. Deixei de te sentir à tanto tempo que já não me lembro. Tenho algumas dúvidas que tenhas existido, que não sejas só uma projecção do cérebro, um holograma de imagens e não mais que isso. Tenho duvidas de mim mesmo, da minha capacidade de discernimento à reacção a um simples acto teu de provocação a tentar que eu fique de outra cor que não o branco, ou as palavras se soltem dos cabos onde se encontram enleadas num emaranhado de ausências.
Eu sei que sabes que um dia te disse que o amor para mim era branco, que tem a cor da pureza. Mas nós já perdemos a inocência do amor e das palavras e dos actos. Fomos a perdição um do outros ambos sabemos e já não temos remédio ou mesinha caseira que nos cure ou nos faça ficar de outra maneira que não esta, branca esvoaçante como a roupa a secar no fieiro, ali na Afurada dos tempos antigos.
Somos um branco anónimo desbotado pelo tempo, e nem esta tentativa de retomar as palavras é coerente ou permite que me liberte.
As vezes, sim, sei que deve ser quando durmo, sonho-te e acordo com um sorriso, aos poucos o sonhar volta, quase que juro, algumas vezes sinto o teu calor, o teu corpo, ou é o meu sangue que ferve fulminado por febres e me engana.
As emoções pregam-nos partidas…




S. Paio Antas 2011


Fotografia de barcoantigo em 2005

sábado, outubro 29, 2011

hoje sinto-te na calmaria...





Hoje sinto-te na calmaria do vento quieto
Das gotas de água pura que desabou dias atrás
E porque hoje é domingo e me apetece escutar Leo

Fantástico e fabuloso…

Dou-te a mão
E caminhamos pela beira-mar em passos leves
Os pequenos Borralhos correm furtivos a esconderem-se

Levo no pensamento a musica que aqui te oferto desta forma fria

Dou-te a mão
Dou-te a mão e fico com a minha tão vazia…

Falta-me a tua voz a acariciar a memória.

sábado, abril 02, 2011

haja o que houver...(repetição...)

Haja o que houver, espero por ti.

Sinto-me cansado. Muito cansado. A espera é longa demasiado longa. Não voltas. Já li todos os livros, escrevi todas as palavras. Agora vou por esta rua da cidade, as mãos nos bolsos, vou abandonado abandonado. Sou um estranho aqui. Não sei se te amo ainda, ou o pensamento que tenho de ti me tem cativo do amor que imagino. Já não sei. Sinto-me terrivelmente cansado. É já noite, e a rua mal iluminada cai em mim, como o negro do luto carregado nas vestes das mulheres no mar da Póvoa. Queria dizer-te. Queria olhar-te. Tocar-te as mãos. Percorrer a tua face sentir a tua pele, e já não sei rigorosamente nada de ti – Não existes por fora da minha cabeça pois não? – Sou eu que te imagino não sou? Olho-te se fecho os olhos. Os teus olhos negros a rirem de mim. Da minha fragilidade.

Haja o que houver vou sempre esperar por ti. Só tu não. Já não esperas. Já não chegas. Já não vens. Já não voltas. Só eu fico aqui, exposto ao tempo a enferrujar. Ás vezes as lágrimas escorrem por dentro, são lágrimas de saudade, mas tu nem sabes o significado, nem o sabor das lágrimas, nem sabes que eu aqui fico sempre à espera das noticias que não chegam. As cartas vêm, devolvidas, perdi a tua direcção, o teu endereço postal.

Há dias fui em tua busca até à foz. Fui em vão. Fui em tua busca até à nossa praia. Fui em vão. As memórias são só minhas agora. "Escrevo uma invenção da memória a ver se coincide com a tua memória minha e te lembras de mim um dia e então regresses à minha memória de hoje em que me sinto angustiado e terrivelmente cansado".

E o tempo agora é um tempo de Inverno que chega. Queria dar-te um abraço hoje, com o sentir à flor da pele, enquanto o tempo, esse, se reúne no céu, a decidir se há-de deixar cair as lágrimas em bátegas de chuva, ou nos ensurdecer os sentidos com o ruído dos trovões a fingir que nos atemoriza. Sou eu que me assusto só com o vazio da tua ausência em mim. A falta que me fazes. Tu sabes minha querida amiga que as pessoas a qualquer momento da vida desiludem, mas no dia seguinte depois de nascer o sol, de os pardais se afadigarem na procura do alimento, voltamos a sermos nós de novo, feridos é certo mas a crescer por dentro.

As cicatrizes ao contrário de golpes feios na pele ficam invisíveis ao olhar menos atento e só alguns nos penetram a alma, alguns olhares, por isso eu, na parte que me toca, dificilmente olho de olhos nos olhos...


Ficam as memórias, guardo sempre as melhores memórias até que elas não passem mesmo disso, só memorias. Não acredito que possamos falhar só nós, a falha é mutua, temos de ser dois para interagir...

E quantas vezes queremos gritar e não sai som, porque morre apertado no peito, e quantas vezes queremos, e...

Às vezes dou por mim a escrever não sei porquê. Entendes-me? Abraço enquanto tento que os barcos se reúnam na Ria...

joão marinheiro

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