domingo, julho 01, 2007

Se te amo que vai ser de mim...


E depois fiquei num qualquer hotel de beira de estrada do qual já nem sei o nome.
Fiquei a libertar-me de ti, do teu cheiro no meu corpo, entranhado nas minhas mãos.
Abandonei-me na cama fria e estranha, fechei os olhos, não sei se adormeci ou o cansaço me venceu.
Hoje foi um dia extenuante de trabalho. Sinto-me a tremer por dentro ainda. Tu tens ideia, as horas que passo ao volante, correndo contra o tempo nas auto-estradas que rasgam as entranhas dos vales. Corro sempre para ir ter contigo, porque todos os minutos que perco no caminho me parecem minutos que faltam para estar em ti. E depois de olhos fechados os teus olhos negros fitam-me em silêncio no escuro da noite. E eu penso na vida. A minha vida sem ti. Porque me mandas embora sempre. Porque te quero em demasia já. Porque te toco em demasia já. Porque te sonho em demasia já. Mandas-me embora a altas horas da noite e eu vou e perco-me nas ruas, as estradas desertas. A chuva que cai como lágrimas que sinto frias a brilhar nos olhos frágeis.
- Que fizemos os dois esta noite?
Porque nos magoamos, se nos queremos tanto e tanto e tanto já.
É tarde demais.
Esta noite queria fazer amor contigo. Esta noite adiada. É sempre tarde. Tarde demais para abrir os olhos.
Perdi-me demasiado a beijar os teus seios. Demasiado. Demasiado. Fechaste os olhos e eu parti.
- Que fizemos os dois?
Queria ver-te adormecer e não vi. Queria ver-te acordar e parti.
Parti sem rumo de encontro à noite estranha onde me perdi. No leitor de cds do carro só passava aquela música nova do Abrunhosa, LUZ. Sabes aquela que eu te disse gostar muito por me acalmar. Só passava aquela repetidamente. Insistentemente na tentativa de me acalmar, e eu que já só queria fechar os olhos e deixar-me ir. Assustei-me com os clarões azuis. A auto-estrada com chuva a esta hora da noite é traiçoeira. Os rotativos das ambulâncias a rasgarem o negro e o silêncio. Senti um arrepio frio. Pensei em ti. Demasiado. Em ti e em mim
Que fizemos os dois esta noite em que te queria amar e parti? – Que fizemos os dois?
Instintivamente agarrei com mais força o volante, redobrei a atenção na estrada.
Os teus olhos negros ainda me fitam na noite escura.

Se te amo que vai ser de mim?
João2007
Fotografia Garbarelle

8 comentários:

Anónimo disse...

E foi aqui que te reencontrei, meu lobo do mar …A perguntar a ti mesmo onde terias deixado a alma, enquanto percorrias exausto a estrada que tinha de ser.
Discretamente, sob a luz pálida da lua, as palavras palpitam por uns olhos negros, e afinal, este é todo o problema do amor, de um certo amor…
Permanece no ar algo como um pouco de sonho. Se o sabor ficou, ficou também a esperança. Se o sabor ficou, é ele que enche a alma porque aí já cristalizou e nem a agua do mar o lava. E a história começa: que fizemos os dois? Sempre a mesma pergunta e afinal ela não sai apenas dos lábios. Tudo começa exactamente como estas coisas começam: que fizemos os dois? Ficamos gravados. Apenas isso. E nunca sabemos quem cantará os nossos silêncios.
Se amas, que será de ti? Nunca mais serás o mesmo.

Maria disse...

O que tu escreves, João, às vezes doi-me tanto....
Revejo-me tantas vezes nas tuas palavras....

Hoje saio daqui "amachucadinha"....

Um abraço e uma lágrima

joão marinheiro disse...

Maria,
Perdoa a minha falta de jeito na escrita, não queria que te doesse. Basta-me a mim a memória dos dias ausentes…

Anónimo disse...

Nunca estará só poeta...
Nunca!

Abraços sempre daqui

Anónimo disse...

Sempre uma inspiração... deixo o meu abraço...

A. disse...

e porque existes assim...apartir de hoje.será também par ti, meu querido J....doce eterno apaixonado.






http://ask-im.blogspot.com/2007/04/meu-bem-meu-belo-fanfarra-atroz-em-que_25.html



a.braços.fortes.

ana.

Anabela disse...

Adorei estes textos... li-os todos e repito-me, que escrita admirável!

Bruxinha disse...

Achas que ela pensava em ti?
Ainda bem que Poeta não ama, senão o que seria de ti...

joão marinheiro

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