sábado, janeiro 03, 2009

Se eu pudesse morrer hoje



Os dedos na comissura dos lábios
A pele branca
As tuas mãos
Os dedos delgados poisados nos seios claros
Redondos
Firmes
Os cabelos
Um negro a brilhar à luz
Que me cega
A tua visão
O desejo
Procuro-te feito doido pela cidade
A névoa dos olhos o fumo das castanhas assadas
O ruído da rua
As pessoas apressadas
O desejo
A tua visão
Quase
Quase a tocar-te os lábios
Os dedos
Vazios
Ainda

A cidade revisitada outra vez
A cabeça a doer
Se eu pudesse morrer hoje.


João marinheiro, Inéditos 2008
Fotografia de Alvaro Dias

5 comentários:

Paula Barros disse...

Estive aqui, li, reli...um poema intenso.

bons dias!

Maria disse...

Um amor que prende demais. Podemos medir o amor? Podemos prender o amor? Ou apenas procurá-lo e amar no momento... ficando com os dedos vazios?

Um abraço, em dia de mar cinzento

Arábica disse...

E quase senti-la...


quase.


e no quase, morrer ?

Eme disse...

se pudesses renascerias uma e outra vez, poeta cheio de vida!

Beijo

Arábica disse...

Dobrá-lo no gesto ancestral de devolver à ordem correcta das coisas o que até ali, se espraiara e possuíra um espaço que não seu..

Dobrá-lo disciplinadamente e depois navegá-lo, sabendo que já não era mar, apenas rio de penas e memórias...

Dobrá-lo por não mais se poder, deitar a face, sobre o sal...

joão marinheiro

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