domingo, janeiro 21, 2007

Andorinha que partes…


Hoje sinto-te frágil e não sei de noticias que aliviem este sentir que tenho comigo.
Dou voltas e voltas à memória e continuo a sentir-te assim deste modo que penso frágil.
Demasiado frágil. Demasiado insegura. Demasiado inquieta. Demasiado nervosa. Demasiado cansada. Demasiado fechada em ti.Hoje sinto-te demasiado só. É assim que te sinto hoje. Ainda me dizes que és como uma andorinha. Mas eu imagino-te sempre uma andorinha. Eu sei que estás de partida. De mim. Do meu sentir. Eu sei.
Perdoa ter buscado a tua companhia mas o teu voar encanta-me. Encanta-me ainda se é importante saberes.
Sinto-te demasiado sensível, e eu sei como é ser assim. E não me dás noticias. Espero sempre as que chegam aos poucos. Chegam em quantidade ínfima quando te lembras que eu também voo. O grave é que te lembras pouco. Pelo menos eu acho. E eu lembro-me muito de ti. Da tua graciosidade no céu. Os voos rasantes que fazes junto a mim. Parece que sinto o calor do teu corpo como uma aragem que me consola. O som do teu coração pequenino batendo rápido como rápido é o teu voar. Quero agarrar-te nos braços nesses instantes e ir contigo. Não te dás conta? Nunca te dás conta do meu querer? Sei que estás de partida. Não posso reter-te. És livre de voar, eu é que gostava de ir contigo, mas o mar não tem asas. Tem sonhos e pesadelos que são coisas completamente distintas. Mas voar contigo é um sonho. Perdoa-me por eu sonhar e assim te prender no meu sonho. Sei que não devo. Mas vou continuar aqui à tua espera, e quando voltares na próxima primavera eu vou estar cá esperando por ti. Chegas, e eu feliz, fico como a maré-viva enorme. Transbordante. Plena. É a forma possível de te dizer o quanto gosto de ti. Eu sei que é pouco, que mereces mais, mas não tenho asas. Às vezes tenho tempestades. Ventos ciclónicos que rasgam e atiram as velas brancas dos velhos barcos pelos ares, e elas sim, parecem asas feridas. Mas não é por mal que faço isto. Acredita que não, é uma coisa que vem do fundo, das profundezas onde a luz não chega. É uma forma de dizer que vivo, que estou vivo, luto por me manter vivo. Acredita que também sou frágil, não sou um mar infinito. E hoje sinto-me um pouco doente até. Mas passa. Na próxima maré-cheia renovo-me.
E hoje talvez por me sentir sensível te sinto no corpo triste…
João 2006
Fotografia de Leonel Braga Pinheiro/www.olhares.com

1 comentário:

Unknown disse...

Numa primeira visita, um texto de vôos que são de partida mas que voltam, talvez na brisa da saudade.
Gostei do texto. Parabéns pelo blog.

Um beijo

joão marinheiro

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