domingo, dezembro 30, 2007
Um verão distante...
vazio de mim
desejando-te
e tu és memória difusa
de um dia em que te amei
sinto um vazio pleno de emoções
estou despido, nu de sentimentos
desejo-te
já não sei quem és
memória de um dia antigo
um verão distante.
João marinheiro Junho 2004
sábado, dezembro 22, 2007
Ainda ontem...
…Abro os olhos e o dia já acordou a nascente por cima das montanhas alvas que brilham e eu mentalmente dou-te os bons dias com um beijo imaginado nos teus lábios que sorriem como se estivessem à espera que eu os beijasse e fico feliz a estremecer de amor e de ternura que é uma palavra redonda como o sol que aquece por dentro e por fora os dias de agora que são frios de Inverno natalícios depois fico aqui ainda mais um pouco a pensar e a olhar o resto do mundo enquanto te imagino outra vez ontem e hoje e dou-me conta que só te consigo imaginar sempre ontem porque em nós tudo é ontem um passado demasiado breve como foi breve e curta a tua passagem por mim e pergunto-me e fico sem respostas porque as pessoas são pessoas sempre mas por vezes os olhos é que querem ver mais do que a vista pode mas tu não sabes e eu não encontro maneira de te dizer que volto sempre a ti à tal brevidade redonda que penso que somos os dois puros e sem futuro nenhum e agora já não faz mal porque já passou esse tempo e entretanto cruzam-se outras pessoas na vida que ocupam esses lugares escondidos durante uns tempos até serem descobertos e partirem também e é assim que vamos vivendo dia sobre dia camada sobre camada as vidas todas descobrindo por vezes os lugares do coração o lugar escondido e secreto onde te guardo e recordo os momentos especiais e de saudade depois tu sabes mas eu nem me lembro que é natal agora e fico assim à espera porque este é com certeza e só um tempo de espera e na janela o sol vai alto a espreguiçar e eu já desperto vou embora com um calor nos lábios do beijo que imaginei porque o primeiro pensamento do dia foi para te desejar um bom dia o dia possível enquanto aqui a imaginar-te desfaleço e o pensamento voa e eu tenho pena de não ser mas se fosse escritor escrevia só para ti uma peça de teatro um romance ou o verdadeiro poema que és em mim…
Ontem, excerto
João Marinheiro, Dezembro 2007
Foto Google
segunda-feira, dezembro 17, 2007
Paciente:
Monitor de plasma Samsung, parecido com o que o Sócrates tinha e que não dava com a impressora…
Abriu os olhos logo pela manhã é verdade, mas algo se passa, varreu-se a memória.
Portanto é um monitor desmemoriado.
Agradecido pela ternura demonstrada e os cuidados enviados na forma de palavras, que por estar assim, lhe soam estranhas.
Às vezes ruidosas.
Outras silenciosas.
Outras não sabe como defini-las.
Na dúvida ficará a conselho da equipe médica que o assiste em repouso mais uns dias, a ver se milagrosamente se conserta, se regenera, se recicla, quem sabe nasce de novo agora que é natal e portanto tudo é possível se, se acreditar com força.
Muita força mesmo.
O próximo relatório será dado se existirem melhoras ou a situação o justifique
Até lá saudinha e muita ternura no coração.
domingo, dezembro 16, 2007
sexta-feira, dezembro 07, 2007
quinta-feira, dezembro 06, 2007
Desafio...
Estas palavras são consequência do desafio que foi proposto por três blogs que visito:
http://olharemtonsdemaresia.blogspot.com/
http://historiamentiraverdade.blogspot.com/
Desde já o meu obrigado pela partilha das palavras. Não é fácil escrever, não me é fácil escrever a partir de um rumo certo quando eu gosto de me perder sem rumo sem agulha de marear. Ficam estas.

Venho por esta rua descendo a calçada. É noite está nevoeiro, a luz amarela baça, húmida, cria ilusões ao longe. Espécie de fantasmas na escuridão. Há pouco, na estação de São Bento partiu mais um comboio apinhado de gente que vai embora rumo a não sei onde. Escutei o som estridente da máquina eléctrica a despedir-se e lembrei do meu tempo em que tinha uma farda, e tu vinhas comigo até ao Porto, esta cidade que revisito em tua busca. Ando de bar em bar a afogar o desejo teu. Caminho. Já não sei. Se este caminhar me leva a algum lugar distante. Preciso do mar aqui junto de mim. Já não sei nada. Desço a rua íngreme em direcção à Ribeira a ver se o rio me leva ao mar. A minha cabeça estoura por dentro, como uma festa de Agosto com foguetes e girândolas de fogo. Arde o meu coração. Lateja, e eu, cansado levo a mão ao peito num gesto mecânico, a tentar mitigar a dor que sinto por dentro. Faltam as forças. Entro noutro bar a ver se estás aqui. Imagino-te e emborco de um trago um copo de whisky velho como eu. Gosto de ti demasiado é isso. Ainda gosto de ti. Interminavelmente gosto de ti. Irei sempre gostar de ti. A palavra é demasiadamente grande em mim, e fica sempre que a pronuncio uma espécie de silêncio a doer por dentro excessivo. Olho em volta mas não vejo nada já. As luzes piscam a arder em clarões vermelhos verdes e azuis, amarelos e brancos intensos. E eu fico almariado, enjoo do balanço psicadélico que vejo, ensurdeço dos gritos que rasgam a noite neste bar tão cheio de gente estranha que dança, pula, e ri, que se abraça divertida. Olho em volta e os casais de namorados amam-se com os olhos as mãos lábios, corpos. Entregam-se com ardor e paixão. E eu inevitavelmente desejo-te e penso em ti. Porque nunca te roubei um beijo consentido e quente, a matar o desejo dos lábios teus. Queria voltar completo e não consigo ainda me sinto aturdido, com os clarões e o álcool a arder por dentro a afogar a sede, as luzes a piscarem como rotativos de ambulâncias perdidas de dor nas avenidas deste Porto estranho. Há pouco vi a arvore metálica grande, luminosa, ilusória, a enganar-me porque ainda não é natal ainda não sinto cheiro do natal e o nevoeiro cega-me e perco os cheiros natalícios. O pai natal é chinês. Só pode ser chinês. Fecho os olhos. Outro dia e eu aqui os olhos fechados a tentarem disfarçar o tempo das horas.
Chego ao Douro da minha esperança, e a água fria, escura, corre rápida indiferente a mim, ao meu drama interior, à minha desorientação dos sentidos, ao meu desnorte. Sinto-me perdido aqui. Esta terra que eu queria nossa. Esta cidade onde te dei a mão a primeira vez. Esta cidade onde me apaixonei por ti. Esta cidade que eu julgava mágica, porque a magia estava em nós.
Vou embora, sigo a margem do rio. Se perguntarem por mim digo que fui ver o mar todo nos teus olhos.
Sim sou eu, só tu não. Só tu já não és hoje, talvez ontem, talvez. Talvez te veja em contra luz. A luz amarela e baça, espessa, diluída no nevoeiro que me faz doer a cabeça. Chego à foz. A caminhada fez-me bem, serenei o espírito, cansei o corpo, dilui o álcool que corria em mim e me fazia eufórico, ébrio de ti. Descanso no varandim do molhe. Olho o velho farol e penso porque lhe tiraram o sino que badalava certo nos dias de nevoeiro como hoje. Escuto o grito da ronca a avisar do perigo os pescadores companheiros meus que andam perdidos. Já não vou ao mar e a vista enche-se de água salgada também. Viro costas ao mar que abraça a água doce que vem cansada por entre vales de pedra e barcos rabelos e memórias a perder-se de amor enamorada do sal. E o mar aqui a esta distancia é tão diferente e sem brilho. O brilho do teu olhar que eu procuro e sonho, e imagino quando caminho na beira-mar na praia das minhas memórias no cabo do mundo, o meu cabo dos medos. Sim tenho medo. Medo de continuar perdido aqui ainda na beira-mar deste oceano tão terno e tão violento, mas é aqui que eu sou pessoa, homem amor amante. Tudo …É aqui, tu sabes que te imagino sempre. Foi aqui que te imaginei quando regressei anos volvidos do mar, cansado. O corpo dorido dos dias cíclicos de trabalho húmido sem ver a terra. Sem regressar à barra do Douro onde te amei.
Ontem estive aqui. Lúcido. O corpo liberto. A mente desperta. Imaginei-te mais e mais. Acho que me enamorei de ti outra vez. Como se isso fosse possível enamorar-me sempre mais e mais. Estavas tão mas tão bonita ontem e a noite ligeiramente fria, mantinha-me desperto. Fui embora quando o nevoeiro da manhã começou a levantar. Tinha o corpo dormente do frio. Tiritava. Hoje vim de novo em tua demandada ao correr da vaga bar em bar. A descer na cava das vagas altas das garrafas. A naufragar. A ver se me afogava de ti. Se me queimava por dentro. Se o fígado cede primeiro que o coração. Porque o coração não me pertence. É teu faz anos. Teu e do mar que um dia me vai levar para a eternidade…
João marinheiro 06/12/07
Fotografia de Sergio Bangher
domingo, dezembro 02, 2007
Ontem II ...
Ontem, excerto
João marinheiro 2007