quarta-feira, março 21, 2007

Dos Poemas dos Poetas agora...
Amo-te porque os teus lábios dizem: ama-me.
Beijo-te porque a tua boca suplica que te beije.
Trago-te no sangue,
Nas lágrimas,
No noivado das albas,
Nos véus dos crepúsculos.
Continuaria a amar-te
Mesmo que as ausências não fossem (como são)
O calendário solar das memórias que me cabem.
As memórias e o jeito de interroga-las
Pergunto quanto ousaria se estivesses presente:
A harmonia dos gemidos,
A insurreição dos rios
O incêndio das palavras.
Toco o meu corpo e converso com as tuas mãos
Decifro um a um (serenamente) enternecidamente
Os insubornáveis caracteres do desejo.
«Ama-me como se hoje fosse o primeiro
Ou o ultimo dia do mundo», dizes.
E eu deito-me sobre a tua pele
E cavalgo contigo até ao cansaço final.

Hugo Santos

*******

Podíamos saber um pouco mais
da morte. Mas não seria isso que nos faria
ter vontade de morrer mais
depressa.

Podíamos saber um pouco mais
da vida. Talvez não precisássemos de viver
tanto, quando só o que é preciso é saber
que temos de viver.

Podíamos saber um pouco mais
do amor. Mas não seria isso que nos faria deixar
de amar ao saber exactamente o que é o amor, ou
amar mais ainda ao descobrir que, mesmo assim, nada
sabemos do amor.

Nuno Júdice

*******

Amo devagar os amigos que são tristes com cinco dedos de cada lado.
Os amigos que enlouquecem e estão sentados, fechando os olhos,
com os livros atrás a arder para toda a eternidade.
Não os chamo, e eles voltam-se profundamente
dentro do fogo.
- Temos um talento doloroso e obscuro.
construímos um lugar de silêncio.
De paixão.

Herberto Hélder

*******


Estávamos no mês de Março
Na caixa do correio, encontrei um postal
Ilustrado: Menez (guache s/papel).
Era teu. E, entre outras coisas
Que guardei para mim, dizia:
Gosto de ti quando sorris ao meu embaraço
De tanto te gostar. Gosto de ti
Mesmo quando estás longe, no alvoroço
De te ter perto. Gosto de ti,
Mesmo quando não parece
E sempre mais do que parece
Que noite morna me nasceu
Então, no corpo como se fosse estio?


Graça Pires

2 comentários:

Anónimo disse...

vou deitar ao mar, todas as hortênsias de outrora,
as tuas guardo-as no sótão
junto aos teus lábios de amora,

Maria disse...

Linda a tua homenagem ao dia da poesia...

Abraço

joão marinheiro

Page copy protected against web site content infringement by Copyscape

Arquivo do blogue