quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Eu já nada sinto
e afinal
gosto de não sentir nada
sozinho na calma das horas passadas
tão só numa outra quietude
num sossego tão só sossegado
e esquecido
eu me esqueça de mim
aos bocados
adormece-me um sono dormente
que aos poucos se apaga
um sonho qualquer...
mas não me acordes...
não mexas...
não me embales sequer...
eu quero estar mesmo como eu estou
quietamente
ausente
assim
a viagem em que eu não vou
nunca chega até ao fim
é longe
longe

tão longe
que de repente tu chegas


tu brilhas e luzes
na cor das laranjas

tu coras e tinges
a mancha da marca
na alma da luz
da sombra que finges se eu lembro
tu mexes comigo
tu andas cá dentro
à volta do meu coração
no meu pensamento
também
e por mais que eu não queira
tu queres-me bem
e desdobras o mundo em cores
e levas-me pela tua mão
cativando o meu corpo
a minha alma
a razão
só a tua presença
me inquieta
aquela outra ausência
dói
como um passado projecta
aquele futuro que se foi
p'ra longe
longe
tão longe
que nunca se acaba
esta inquietação
se evitas momentos
já quase finais
e ficas comigo
ainda e sempre
um pouco mais...

Fausto Bordalo Pinheiro, Poeta cantor

11 comentários:

Anónimo disse...

Sempre mais e mais e mais e mais e mais até que um dia morra de saudades. Das perguntas sem resposta. És tu?

Anónimo disse...

Que digo eu...
Quando sei das perguntas e sei das respostas!
Que faço eu, morro então de saudades?

Anónimo disse...

e se matasses as saudades? Matar as saudades ... sabes como se matam as saudades? Com os olhos, com as mãos, com os braços e

Anónimo disse...

com as palavras ?

joão marinheiro disse...

Eu...
Palavras é o que mais uso para enganar a saudade, não te dás conta?
Como podem existir respostas, se existem só perguntas e o desconhecido que acontece do outro lado.
Eu, serás tu?
Pergunto!

Anónimo disse...

E eu morro de saudades também.
Morremos os dois?
Nunca chegaremos a nós?
Vais deixar-me cometer os mesmos erros de sempre? "não te dás conta" que fico emaranhada em fios e mais fios e não consigo saber o que fazer, o que dizer.
Morremos os dois, os dois de saudade, pronto ...


escreves tão bem ...

joão marinheiro disse...

Eu...
Estou a abrir uma excepção. Não costumo fazer comentários.Os marinheiros morrem de saudades tu não acredito porque não existes para alem deste monitor onde te leio...
Como escrever bem se o poema é do Fausto...Que é poeta e cantor, e tem bom gosto...
Falas de erros? Que erros? Os ortográficos que corrijo ou os outros que cometo e não tem remedio...

Não te quero deixar morrer de saudades, basto eu para escrever de saudades e de partidas, mas assim fui aprendendo desta vida, a conviver com as pedras do cais de embarque, as viagens mar adentro sempre em direcção ao sul...
Não tenhas saudades...
A vida é simples nós é que complicamos.
Os fios agarram-se por uma ponta e desfiam-se, posso ensinar a fazer um cabo forte de fios entrançados...
Adivinho-te?
Os teus caminhos?
Por onde andas?
Até onde podemos ir?
Um dia farto-me de saudades, das partidas.
Das mãos sempre demasiado frias, lembras...Demasiado vazias...
Fico por aqui.
Nem sei porquer escrevo ainda!

Anónimo disse...

Escreves ainda porque "não existes, és uma criação literária". Tu próprio assumes que não existes para além deste monitor de não sei quantas polegadas.

E nunca vais existir para além deste monitor de não sei quantas polegadas. Percebo isso agora.

Os meus caminhos? Podiam ser os nossos caminhos, se me deixasses percorrer os teus caminhos, e eu que não os adivinho fico parada na berma esperando que o vento me dê um sinal, uma direcção.



Até onde podemos ir? Ao mais fundo de nós, era o que podiamos descobrir, juntos. Até onde podiamos ir.













As mãos frias.
Eu ia esquecer-me das mãos frias?

joão marinheiro disse...

Eu,
E vale a pena ainda ir...Afinal vou sempre só-
Fala-me de ti se queres.

Anónimo disse...

se não lhes chamares "ninharias", falo-te de mim ...






não é do Fausto que eu gosto, é de ti.

joão marinheiro disse...

Não apelido os sentires de ninharias...
Aguardo então.

joão marinheiro

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