quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Os olhos rasos de água

Cansado de ser homem durante o dia inteiro
Chego à noite com os olhos rasos de água.
Posso então deitar-me ao pé do teu retrato,
Entrar dentro ti como num bosque.

É a hora de fazer milagres:
Posso ressuscitar os mortos e trazê-los
A este quarto branco e despovoado,
Onde entro sempre pela primeira vez,
Para falar-mos das grandes searas de trigo
Afogadas na luz do amanhecer.

Posso prometer uma viagem ao paraíso
A quem se estender ao pé de mim,
Ou deixar uma lágrima nos meus
Olhos ser toda a nostalgia das areias.

É a hora de adormecer na tua boca,
Como um velho marinheiro, num barco naufragado,
O vento na margem das espigas.

Eugénio de Andrade

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joão marinheiro

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