Para que tu me ouças
As minhas palavras
Adelgaçam-se por vezes
Como o rasto das gaivotas sobre as praias.
Colar, guizo ébrio
Para as tuas mãos suaves como as uvas.
E vejo-as tão longe, as minhas palavras.
Mais que minhas são tuas.
Vão trepando pela minha velha dor como a hera.
Elas trepam assim pelas paredes húmidas.
Tu é que és a culpada deste jogo sangrento.
Elas vão a fugir do meu escuro refugio.
Tu enches tudo, amada, enches tudo.
Antes de ti povoaram a solidão que ocupas,
E estão habituadas mais que tu à minha tristeza.
Agora quero que digam o que eu quero dizer-te
Para que tu ouças como quero que me ouças.
O vento da angústia ainda costuma arrastá-las.
Furacões de sonhos ainda por vezes as derrubam.
Tu escutas outras vozes na minha voz dorida.
Pranto de velhas bocas, sangue de velhas súplicas.
Ama-me, companheira. Não me abandones. Segue-me.
Segue-me, companheira, nessa onda de angústia.
Mas vão-se tingido com o teu amor as minhas palavras.
Ocupas tudo, amada, ocupas tudo.
Vou fazendo de todas um colar infinito
Para as tuas brancas mãos, suaves como uvas.
Pablo Neruda.
quarta-feira, fevereiro 28, 2007
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joão marinheiro
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1 comentário:
"Por ti, junto dos jardins recém florescidos afligem-me osperfumes da Primavera. Esqueci o teu rosto, não recordo as tuas mãos, como beijavam os teus lábios?
Por ti, amo as alvas estátuas adormecidas nos parques que não têm voz nem olhos.
Esqueci a tua voz, a tua voz alegre, esqueci os teus olhos.
Como uma flor ao seu perfume,estou ligado à tua recordação imprecisa. Estou perto da dor como uma ferida, seme tocares magoar-me-ás irremediavelmente.
Envolvem-me as tuas carícias, como as trepadeiras às paredes sombrias. Esqueci o teu amor e, não obstante, adivinho-te por detrás de todas as janelas...
(Pablo Neruda)
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