sábado, fevereiro 17, 2007

Uma historia...


Esta é uma historia que se queria de amor...Das minhas histórias...

(...Aqui onde te escrevo este computador é uma mentira. Está cheio de contactos fantasmas. Endereços de pessoas virtuais que não existem. Já partiram. O teu é o último da lista. Tenho que mudar de computador. Comprar um verdadeiramente pessoal, com um poderoso anti vírus que detecte os endereços virtuais, e as pessoas que não existem por detrás das palavras. Tenho, que este já não o é. É um computador frio cheio de manhas. Impessoal.
Estamos á distância de um gesto. Mas um gesto é demasiado longe ainda.
O meu telemóvel é outro mentiroso. Salva-se o número do 112 que às vezes funciona …)


I

Hoje volto renovado.
Chego agora mas nunca parti em definitivo.
Arrumei as ideias, descurei a saudade, deixei de ir em tua demanda.
E penso que agora, à velocidade que gira o mundo, as coisas do meu tempo de miúdo são um passado longínquo. Quando lembro as brincadeiras de criança, de como matávamos o tempo naquele tempo, parece que lembro de algo surrealista desenterrado em algum sítio arqueológico…
Tempos modernos estes…
Ás vezes até eu duvido do tempo passado…
Mas. O importante é o regresso a casa. Aqui onde me esperavas de braços abertos, o coração cheio de amor, o amor que busco, a tal perfeição. Imperfeita por não ser alcançável. Um dia será.
Espero!
E agora?
Que faço?
Abro de novo a porta?
Espero as notícias tuas que tardam. Para que espero eu noticias tuas? Sei de antemão que já não estás. Sinto-te em alguns momentos e sinto esta casa demasiado grande sem ti. Pois…descurei a saudade. Mudei. Conheci pessoas grandes e pequenas. Continuo a ser surpreendido pelas pessoas.
Passei de novo a dolorosa fase do sacrifício da escrita, quando sinto a tua ausência que dói ainda e te escrevo a lamentar-me disso. Envelheci e os anos tornam-me mais calmo, o coração ressente-se já. Ainda bate por ti a maioria das vezes. Não te dás conta? Não te dás conta de nada. És completamente insensível ao meu amor por ti. Já não sei se lhe chame amor.
Que raio de coisa esta…
Hoje para não jantar só, coloco também o teu prato de porcelana azul em frente a mim, no lado oposto da mesa, duas velas azuis completam. - Ah! Comprei um ramo de rosas como tu gostavas, coloquei na jarra de cristal que trouxeste um dia e deixaste ficar. Sento-me, imagino-te ai. Não me apetece comer e sinto fome, bebo dois tragos do vinho que trouxemos da quinta grande e tu nunca provaste por não gostares de vinho, gostavas de água fria.
Acendo um cigarro fecho os olhos. A primeira vez que te vi….
Nem sei como aconteceu. Atravessavas a rua, perdeste a capa do sapato no paralelo e caiu o sinal, e tu, aflita descalça, então liguei os quatro piscas e com o meu carro protegi-te. Sorriste, acho que disseste um obrigado baixinho e olhaste para mim olhos nos olhos. Comecei a amar-te nessa altura, não me dei conta. quase nunca me dou conta das coisas importantes. Não me dei conta do importante que eras, o importante que és ainda.
Não me dei…
Vou sair, acho que a um bar qualquer, beber um copo e afogar-te dentro de mim esta saudade.
- Amo-te!

II

A minha fúria.
A minha raiva.
A minha insegurança
A minha insatisfação
A minha dor, e a minha tristeza, não são importantes, não são válidas para ti
porque eu não sou ninguém nem agora nem antes. Já não acredito nas palavras ditas. Porque existes. Nunca existi para ti. Fomos um desejo ou uma vontade em partes desiguais. Fiquei só, perdido. Amarrado à tua imagem e ao desejo. Como te quero ainda…
Contenho a fúria que sinto de não poder gritar que te amo!
- Porra!
-Que te amo, entendes!
Não, não entendes. Porque eu não soube entender-te ou compreender o teu amor, feito de ausências, esperas e desilusões. Sinto que também eu te desiludi, ou feri mais ainda, teu coração que sangrava e nunca me dei conta desse fio de sangue rubro que ostentavas no peito, e por debaixo desse sorriso frágil ou esse olhar meigo que me prendeu.

Hoje escrevo-te porque sinto uma saudade que incomoda e me faz ficar violento. Ontem andei nos copos tentando afogar-te da minha mente, olha o resultado. Confesso que não compreendo por não fazer parte dos meus princípios de vida. Mas se calhar, não sou moderno, ou deste tempo em que as vidas se apagam como um ficheiro anexo no computador. Se enviam para reciclar, e não existe mais a salvação possível de voltarmos aos mesmos caminhos, e trocarmos um simples olá e um sorriso. Um cruzar de olhos cordial e simples.Vivo por cá, de volta das palavras, como agora em que o pensamento me leva até ti. A frustração que sinto por não saber já quem és, ou o que foste na minha vida. Ou a marca funda que deixaste por dentro de mim, a ferida que abre sempre. As interrogações todas que me ficam a bailar no pensamento. A impotência de saber de ti. E não te importas. Sei que não te importas queeu morra como o viajante perdido no deserto sequioso do teu amor, ou do teu olhar que me saciava já, a sede que sinto. Confesso que não compreendoporque deixei de te escutar ou deixaste de ter tempo para me escutar. E eu que não sou assim, tenho dificuldade em compreender porque gosto de retornar aos nossos sítios de antigamente onde fui feliz, e posso recordar, construindo de novo, um exercício mental de esforço limite à memória, os teus gestos, as tuas palavras, os teus actos de carinho hoje diluídos na distância do tempo. Vontade de seguir em frente. Tu nunca estás, e sabes que me fazes falta! - Não te dás conta?Deste grito que é um lamento surdo, do condenado à fogueira inquisidora por um dia confessar o amor a ti. Simples actos sem memória que faço, gestos como peças de uma arqueologia estranha, difíceis de decifrar por não serem reais e existirem no meu cérebro alucinado ou na minha raiva contida. Ando como um louco pela rua fitando os rostos na esperança inútil de te reencontrar um dia neste Porto, mas os anos passam e eu, estou ficando tremulo, velho, cansado, vencido por uma artrite silenciosa, que mina e tira a vontade de seguir em frente. Tu nunca estás, e sabes que me fazes falta!
- Não te dás conta?

III

Perdoas-me?
É importante saber pedir perdão. É importante saber que me perdoas. Ontem não era eu, estava furioso e triste por tua causa, é que me sinto sem saber o que fazer, à deriva mesmo, e isso mete-me medo. Porque és tu o meu porto de abrigo. És tu que me tiras o medo que sinto, sabes.
Mas a tua memória dói-me. Entendes. Dói-me. Lateja dentro, e fico furioso comigo mesmo. Perdoas as minhas palavras agressivas de há pouco, a minha raiva a minha fúria, foram saudades impotentes. Tu já não estás, e eu ainda não me habituei completamente a isso, ainda olho o teu retrato junto da jarra de cristal, lembras? Que tiramos em Santa Luzia, um dia que fomos ao norte, naquele fotografo que até já falou na Tv., por ser o único fotografo à lá minuta. Ficaste bonita sentada no cavalinho de pau e eu perco-me a olhar para os teus olhos que brilhavam. Já te disse que gostava dos teus olhos de olhar doce. Já? Nem sei se te disse. Agora digo e não escutas o que te quero dizer.
A vida tem destas coisas. Não sei o que me custa mais no momento, a saudade ou a ausência tua. Sim. Porque nunca estás. Já não estás. Nunca estiveste verdadeiramente comigo. Essa a realidade a que tenho de me habituar. A tua ausência dói-me. A tua ausência arde-me como uma ferida viva.

Como te reencontrei. Como te revi. Lembras amor. Posso chamar-te ainda de amor? És sempre o meu amor que guardo no coração, disse-te um dia quando te despediste, és o meu amor ainda, por isso te chamo de meu amor, se não gostares paciência, o que está feito, feito está. Gosto de te rever assim, gosto de te falar assim. Mesmo não sabendo onde te encontras faz tanto tempo. Demasiado já
Lembras como te reencontrei. Lembras? – Diz-me que ainda te lembras!
E tinha passado já tanto tempo. Um, dois anos? Não sei. O importante foi que me reconheceste, guardo as tuas palavras: – Obrigado por me salvar de ser atropelada na passadeira. Recorda-se? No Porto junto à foz, que pena já não se lembra…
Como não lembrar-me. Como não? Não acreditava que te tinha ali, á distancia da minha mão. As voltas que dei na tentativa vã de te encontrar, corri não sei quantos dias a foz de trás para diante de diante para trás. Perseguiste-me a memória. Sei agora porque nunca te encontrei, sei. Tu disseste porquê…

O mundo gira redondo exacto. Inevitavelmente podia acontecer, aconteceu.
Eras tu. És tu! Demorei a raciocinar. O pensamento parado, branco. O cérebro em off tolhido pela surpresa. Eras tu a mulher dos olhos doces que eu fitei um dia. Não acreditava no amor ao primeiro olhar, olha o que me aconteceu. Que tens no olhar? Magia? És uma fada mágica? Não sei, sei que tens um olhar precioso e meigo, daqueles que dá vontade de pular para dentro e ficar aninhado em ti.
Como te procurei na nossa cidade grande. Nunca te encontrei, e agora passado este tempo estás ai na minha frente sorrindo. Aí o teu sorriso, a forma do teu rosto quando ris, como gostava de parar o tempo e contemplar-te assim quando sorris. O sol brilha mais forte, o ar fica perfumado de essências silvestres, mas isso é o meu amor por ti que dá conta das alterações na natureza que tu provocas.
Quem és? Olho. Preciso saber quem és. Dizer-te que desde o dia em que vi na passadeira na rua da Foz vives por dentro de mim. Preciso de ti… A tua ausência é uma ferida aberta ainda que sangra ao menor esforço. Não tenho já maneira de estancar o sangue que brota em lágrimas escorrendo, não tenho já um sulfamidas milagroso para cicatrizar o que sinto.
Perdoas as minhas palavras de ontem?
É importante saber perdoar, é importante eu saber. Fico com o coração reconfortado mesmo não sabendo já de ti. Tenho sempre a esperança de te encontrar de novo na Foz. Passeio-me por lá mas tu nunca estás. Não sinto o teu perfume no ar. Não escuto o teu riso ao longe, os que escuto e são muitos, não são o teu riso. Tens um riso inconfundível com sinos e brisas que ressoam por dentro como o som da água na cachoeira. Reconheço-te entre mil. Pena que nunca te escute. E a tua vos meiga serenava-me até adormecer nos teus braços. Como te quero…

IV

Quero dizer que te amo.
Para que saibas. Que te amo. Não me importa o que penses já.
Quero dizer-te só isto. – Que te amo
Como te quero…
Agora que recordo o reencontro de ti e as saudades dilaceram por dentro. Agora que sustenho as lágrimas teimosas. Agora que me dou conta da dor da tua ausência. Porquê agora tão tarde para nós? Demasiado tarde para mim. Sinto-me cansado e velho por dentro. Que me importa o corpo ainda viçoso, se me sinto velho por dentro, um velho abandonado num lar de terceira categoria. O olhar fina-se sem brilho sem o fulgor de outrora quando tu de olhos nos olhos me dizias que era o teu amor. Já nem sei se alguma vez o disseste ou se invento tudo. Tenho uma cabeça confusa. Mas a dor que sinto por ti, dás-te conta da intensidade da dor que sinto?
Porque te foste embora prometendo regressar. Porque deixaste de me falar. Confesso, senti que te perdia na gare daquele imenso aeroporto quando passaste a porta sem olhar para trás. E eu, perdido na esperança da tua volta fui ficando esquecido. - Olha o resultado! Olha a quantidade de perguntas que ficaram sem respostas.
O importante foi reencontrar-te. A maneira como te reencontrei, estava escrito nos astros, nunca o imaginei, nunca me tinha passado pela cabeça, e estavas ali. Eras tu! Levei um tremendo choque, quase me caiu o coração aos pés, eu que sou um homem habituado a emoções, confesso que não estava preparado. Amei-te mais ainda naquele momento em que te vi. O amor que eu escondia, o amor que eu disfarçava, o amor que eu mitigava no corpo de outras mulheres estava ali. Poderoso. O amor é uma arma. Matas-me dum tiro de amor. O teu amor.

Encontrei-te por acaso. Podia ter sido ontem, ou um dia qualquer igual, o destino não quis assim. Foi hoje, ao final da tarde, davam-se os últimos retoques para a exposição das jornadas que nos tinham levado ali. Tu uma primeira vez, soube depois. Eu passados vinte anos, mais ano menos ano, à terra onde tinha vivido. Ainda me sentia em casa, embora a casa estivesse arrumada de maneira quase irreconhecível, o betão deu lugar ao pinhal, os antigos espaços enormes desapareceram, estavam entalados em ruas e prédios com uma estética de mau gosto…
Nem de propósito. O motivo que nos levou ali, património e urbanismo, qualquer coisa como jornadas ao redor do tema.

À última da hora resolvi ir, não que este tipo de tema me fosse interessante. O meu património é mais barcos e água. Sou um marinheiro ausente, pois o mar não é a minha profissão, mas o meu imaginário…
Não conhecíamos ninguém. Isto, o princípio é assim difícil, no princípio o desconhecimento é total. Desconhecia-te portanto, nunca tinha escutado a tua voz.
O Xico, o homem das jornadas salvou a situação fazendo as apresentações, soube assim que tinhas tinha vindo de fora: uma estrangeira? Por isso nunca te encontrei pelo Porto….
Achei interessante esta perspectiva de vida, uma outra cultura, uma outra civilização, um outro modo de viver a vida, um olhar diferente das coisas.
Todas estas interrogações não passaram de flashes que me ocorreram ao pensamento à velocidade de um comboio rápido. O importante no momento era descobrir quem eras, ou melhor, verificar se falavas por detrás do teu sorriso terno. O mesmo sorriso que me perseguiu a memória desde aquele dia na foz…
Falar, falavas. Pouco de cada vez. As frases sintéticas e resumidas, davam azo a que se imaginasse um mundo novo ou um mundo de mistério à tua volta.
E isso era interessante. Apelativo. Eu tinha de saber quem eras. Como te chamavas, o que fazias, porque estavas ali. Necessitava urgentemente de saber e tu sentiste algo em mim, pressentiste isso. Muitas perguntas me passavam num repente pelo pensamento, porque sou assim, um tipo de muitos pensamentos, muitas interrogações. Mas tu sentiste. Porque sorriste e me disseste. - Eu conheço a sua cara. Obrigado por me salvar de ser atropelada….E eu, surpreso, disparei em piruetas por dentro, tu deste por isso, tu descobriste o meu segredo e jogaste a teu favor…Lembravas-te de mim este tempo passado.
E ainda dizes que já não sou o teu amor…não te importas que te guarde cá dentro, que envelheça diariamente na ausência de noticias tuas…
Já não queres saber de mim…
Já não existes. Sobrevives em mim porque te amo ainda. É essa a minha realidade pessoal e intransmissível
Sobrevives em mim…

V

Estávamos para ali em pequenos grupos ao redor do Xico, um tipo indecifrável, verdadeiro artista, não se sabia…
Resolveram eles em boa hora para quebrar as distâncias, ou o frio do desconhecimento, ou o gelo das apresentações instituídas, irem todos tomar um café, ou melhor umas imperiais que estava muito calor, ou não fosse o Algarve a terra do calor. Eu entretido a organizar os painéis da exposição que também levei, por pouco não ficava só. Não sabia de ti. E estavas presente em mim…
Ai sim. Feitas as reapresentações, de roda de uns copos de cerveja geladas, ficaram todos a conhecer-se melhor, ou quase nada.
Na mesma, muito comedida nas palavras continuavas, notava que eras de poucas falas, tímida um pouco? Ou porque tu também não conhecias ninguém. Recatada portanto. Aos poucos sempre soube que tinhas estado em Cuba na semana anterior. Observava-te por detrás do copo de cerveja, via o brilho do teu sorriso, o contorno dos teus lábios, o teu olhar, sabias que eu te olhava, sabias. Depois mais tarde, um dia confessaste-me ao ouvido que gostavas das minhas carícias com o olhar. Porque me enamorava de ti a cada instante eu?..

O Xico no seu modo peculiar. Estranho. De arquitecto do tempo e do espaço, resolveu pagar as cervejas e sair de mansinho, afinal tinha ainda uma noite de trabalho intenso para vencer. Nisso somos parecidos os dois, não deixamos por mãos alheias o que nos propomos fazer, um no urbanismo recuperado, outro nos barcos que morrem lentamente em qualquer beira mar…

Tinha de conhecer melhor o Xico, para expor-mos algumas ideias das vivências de cada um, para assim partilhar-mos essa maravilhosa essência de viver que é a amizade compartida em actos e pensamentos. Exposições, jornadas. Recuperação de um património que se perde em cada batida do coração. E assim desfalecido, fora de moda, esse nosso património, sofrendo de uma qualquer espécie doentia de Alzaimer vai regredindo, velho, sem utilidade, ficando mais pobre a memória, a nossa memória colectiva, de povo antigo, aventureiro, explorador. Povo de partilhas e descobertas de outros mundos. Estranho isto de ser Português…
Sentia-me um pouco em casa, afinal vinte anos antes já por ali vivera, numa das minhas deambulações de beira-mar, vindo da Fuzeta e da Ilha do Farol, mesmo sendo um homem do norte apanhava muito depressa o sotaque algarvio, meia dúzia de horas depois de chegar, já falava à moda do Algarve, como um filho da terra. Nunca se esquece a herança cultural que se adquire, e nisso sou um privilegiado. Essa riqueza dos sons, dos modos de vida, dos cheiros, da azáfama própria de cada lugar. Esse modo de olhar o mundo ou o horizonte da água, que a água como primeira memória da humanidade tem que andar sempre por perto na minha vida.
Findo o jantar. Cada qual por seu lado, que Vila Real é terra esquisita nestes dias, quase não se arranjava onde matar a fome. Estranha sensação esta de ser estrangeiro na nossa terra. Terra de “camones” que eles é que são o turismo. Eles é que tem o “money”. O português não interessa.
É melhor não enveredar por esta dissertação…deixemos que a globalização nos afogue tranquilos….
Regresso a ti. Bebi as tuas palavras pela noite fora…
Regresso a ti e à grata sensação do teu encontro. Olhar bonito. Perspicaz, se calhar defeito profissional? Tinha que descobrir. Mas afinal em que trabalhavas? Este foi o nosso primeiro encontro lembras, e tinha já tanto para te dizer. Tanto!
Em conversa sentados à mesa do café, lentamente revelaste que fazias investigação. Investigadora de património. Leccionavas em Londres na universidade.
Eu não sei do que falei, demasiado talvez? Lembro que fascinado pelo teu olhar de mistério, de roda do copo de cerveja que sorvia em pequenos golos, escutava-te, escutava o que me dizias. Aos poucos e pouco revelavas-te, como a água que brota na bica, vinda da mina entubada das entranhas da terra. Fresca, caindo em pequenos jorros na represa dos sentidos onde os jacintos de água e as libélulas disputam um lugar ao sol. Eras o meu sol na noite adiantada…
A madrugada avança. O copo está vazio, e a coragem para mais um diluiu-se na satisfação da sede saciada. És a fonte que me sacia a sede, não a desaceleração do ritmo a que gira o meu coração…
Tarde da noite, ou do novo dia que já despontava no barrocal a nascente despedimo-nos. Engraçado, estávamos no mesmo hotel. Amanhã, ou mais logo será outro dia para o reencontro.
Esta noite sonho contigo, sei já o cheiro dos teus cabelos macios, o cheiro do teu perfume. O som da tua voz. Adormeço embalado por emoções.
Adormeço em ti…

VI

Manhãzinha, acordei com as andorinhas em bandos nos beirais construindo os ninhos. O seu chilrear imenso transmitia a paz que à muito não sentia.
Espaço, liberdade, ócio. A imaginação assim desperta vai em voos rasantes, e lentamente os olhos vão-se habituando à claridade dominante
Tinha de ser, vencer a preguiça e levantar.
Dar um banho de água tépida, para que a dor de costas constante e habitual se atenuasse. Que bom a água tépida correndo no corpo. Mirei-me ao espelho, o cabelo húmido colado à testa, a barba já grande pedia para ser cortada, demorou pouco, um pouco de after-shave e já está.
Tinha de me despachar, hoje queria escutar-te na tua intervenção, apresentavas a tua comunicação da parte de manhã. Queria estar presente tu sabes.
Agarrei a pasta, corri porta fora, sentia fome, um apetite exagerado no início da manhã. Assim para equilibrar o organismo devorei num ápice o croassant e a meia de leite que me serviram. As jornadas já se tinham iniciado.
Será que já lá estavas? Hoje era o dia da tua apresentação, expectante, eu não podia perder o momento, de maneira nenhuma!
Olhei, não sei quantas vezes o relógio, os minutos pareciam horas…Estava impaciente acho. Que longo o caminho até ao auditório.
A sala cheia ou quase…Mirei um lugar bem na frente, uma cadeira vazia esperava por mim, reservada por alguém com poderes mágicos e invisíveis.
Procurei-te com o olhar, uma e outra vez, não te vi na assistência.
Que parvo! – Olha o que me fazes com a tua presença, deixo de ficar lúcido!
Estavas na mesa, dentro em pouco fazias a tua apresentação, ao redor do Porto e do seu Património. Gostei de te escutar, o à vontade com que explanavas as tuas ideias. Denotavas um domínio profundo do tema, um à vontade que à primeira vista colidia com a tua figura de menina, mas mulher segura, com a assistência interessada em silêncio escutando a tua dissertação sobre o tema.
Fiquei emocionado contigo, olhaste para mim, e o teu olhar mandou-me um beijo, retribui a carícia. --Quero dizer que te amo, para que saibas!
Amei-te nesse instante, não o sabia, mas mais tarde esse amor revelou-se. Mais tarde. Estava a aprender a conhecer-te. Estava ainda a refazer-me da surpresa da tua presença.

O almoço por conta da organização foi excelente, ao redor de pratos típicos, o peixe fresco estava delicioso. Bem regado por um vinho branco da região. As conversas em cada mesa divagavam em temas vários. Não sabia onde te encontravas, procurei-te com o olhar, notava-se. Em tua busca qual radar procurando um ponto de referencia no ecrã plano que me indique as coordenadas para não te perder…
Não te vi. O meu radar estava cego como se diz em gíria marítima…Suava copiosamente, a camisa colada ao corpo, como apetecia dar um mergulho.
Uma tarde quente, o ar perfumado do cheiro a frutos tão característico do Algarve, misturado aqui e ali por cheiros a carvão e peixe assado na brasa, memorias de vinte anos passados….O ar impregnado de sons, andorinhas velozes chilreando felizes em bandos pouco interessadas nas lutas diárias e constantes que se travavam no interior de cada um. O amor andava no ar… E não sei de ti!

VII


As jornadas estavam na recta final. Foram um sucesso.
Ofereceste-me um livro lembras. Um livro pequenino. “O dia em que o mar [des]apareceu”com dedicatória e tudo: Em memórias apaixonadas (…) numas jornadas com sabor a mar…Gostei tanto da ternura do teu gesto, tanto. O gesto simples da oferta a mim, um livro a falar de mar, o meu mar de paixão, o mar onde me perco nos sonhos como uma gaivota mar alto vogando. Logo eu que nunca fui habituado a receber presentes. Logo eu.
Nessa noite fomos a um bar a Monte Gordo beber um vinho e fazer a despedida fomos todos em três carros nem lembro. Estava contente e triste ao mesmo tempo. Ias de novo embora. Em mim a esperança de voltares. Ainda agora te tinha reencontrado. Não te dás conta do importante que és já, em mim.
Não vez nos meus olhos o que confessam a ti, porque eu também vejo nos teus…

Durou até tarde a despedida de roda de um bom vinho tinto. Acolheram de bom grado a minha ideia de bebermos um vinho nosso em vez das tais cervejas estrangeiras na moda.
Fomos deitar-nos no início da madrugada, disse-te um até amanhã à porta do elevador, fizeste uma pequena festa no meu braço que ainda sinto hoje, o calor da tua mão como um choque eléctrico quente, de alta voltagem. De manhã não te vi. Não te vi de manhã. Adiei a partida ao máximo e tu não estavas. Disseste-me depois, meses mais tarde que não gostavas de despedidas, que me viste partir. Que estavas à janela por detrás da cortina. E eu que olhei todas as janelas, e nunca um vislumbre de ti por detrás da vidraça… soube depois que foste no avião da tarde, eu já vinha correndo na auto-estrada para o nosso Porto.
Andei triste durante uns tempos. Perdido em ti, no teu olhar na tua voz no teu perfume, no teu sorrir, andei saudoso de ti, não te dás conta?
Que te dizer mais. Que me confesse de novo repetidamente até ficar exausto!
Fiquei aguardando que voltasses. Esperei por ti. Regressaste um dia. Meses depois, esperava-te ainda. - Espero-te porra!
Ligaste a dizer que tinhas voltado por uns dias ao Porto, que me querias ver, que tinhas saudades. Fiquei tremulo, perdido. Em branco com a surpresa, demorei a responder-te, disseste: - Então não me queres ver? - Claro que quero ver-te. - Claro que quero olhar-te finalmente. Olhos nos olhos, claro que sim. É importante que saibas que te amo. Mesmo que não te importes, ou que escrever-te agora, seja um sacrifício para mim porque tu estás em mim e estás ausente.
Fomos felizes os dois. Porque fechaste a porta atrás de ti? Porque não olhaste para mim na despedida? Porque te despediste se não gostavas de despedidas…
Porque fiquei assim de olhar vazio de ti?
E porque fico triste ainda quando faço o esforço tremendo para te recordar. Quase não lembro teu rosto, o rosto que percorri milímetro a milímetro com meus lábios. Merecemos isto os dois? Mereces tu? Mereço eu? Devo merecer claro, acho que errei em alguma coisa, o meu amor padecia de algum mal misterioso, só pode ser isso…

Ficamos a meio de nós, entendes. Ficamos a meio das conversas. A meio do amor nos braços um do outro. Ficamos a meio. O elevador parado entre dois pisos que não existem. Espécie de história sem epílogo, onde eu não sei o principio nem o meio, e fico só com a tristeza que dói de um final por terminar ainda. Perpétuo em mim…

VIII

Vou até ti…
Quero ir até ti. Em tua busca. Estou farto de olhar os números do telemóvel que ficaram e não tenho a coragem de premir. Pareço um puto de volta do brinquedo. E estou exausto acredita. Chego a um ponto, uma espécie de promontório ventoso de onde não sei sair. Acho que estou viciado. Viciado em ti, nem sei se é um vício o que sinto já, não sei, sei que me fazes falta, és uma espécie de presença que existe mas não se toca. Tentei substituir-te, como uma peça de um carro que avaria, mas tu és demasiado especial, peça única valiosa, nem te dás conta do valor que tens em ti, não consigo substituir-te, fico com o carro cheio de defeitos…
Tentei escrever-te, não sei se recebes as minhas palavras, porque agora que já passaram todos estes anos e eu me sinto mais triste, acho que já não vale a pena escrever-te. Também acho que já não tenho a coragem para te procurar, para dar os passos que me levem até ti. É o que mais desejo acredita. Para recomeçar ou matar de vez o amor que sinto. Porque, dou-me conta, não é um amor bonito este que sinto. Existe uma espécie de véu que me tolda o olhar, sempre, e me impede a amar de novo completamente outra mulher. Assim sobrevivo e o teu amor mata-me lentamente. O mais grave é que tu já não me amas, então tudo isto não passa de uma teimosia minha ou uma loucura. Enlouqueço aos poucos, fecho os olhos para não te ver, mas tu vens, vens profundamente. Assim, construo um outro mundo paralelo onde vivo e escondo o teu para que não se saiba que é doloroso e obscuro, um lugar construído em silêncios e paixão. Quero ir até ti. Mas vou só no tal mundo paralelo de ruas estreitas. Tenho medo. Parece que te encerrei numa masmorra com porta espessa e paredes de metro onde o sol não entra e o barulho da vida não existe. Não consigo olhar-te de frente. Ou libertar-te.
Que me adianta ir pelo meio da rua, que me adianta olhar as pessoas. Sabes, deixei de olhar nos olhos de frente, deixei de olhar os olhos de outra mulher com medo de me apaixonar, o medo de revelar um amor que existe encerrado e em segredo em mim. Tu não sabes. Tu não imaginas. Não é importante o pormenor. Mas, as lágrimas assomem aos meus olhos quando te escrevo. Porque a tua saudade mata-me aos poucos, tira-me as forças, sangra-me. Por isso tento não te lembrar para não morrer de amor por ti. Mas hoje não resisti. Olha o resultado. O que acontece. Como fico extenuado…
Acho que errei em algo na minha vida, já te escrevi a dizer isto mesmo, que o meu amor por ti padece de algum mal misterioso. Ficamos a meio de nós, e eu pareço o vagabundo doido a meio da ponte pênsil em dia de ventania. Balanço ao sabor dos ventos que me esfriam o corpo, mas vou sempre seguindo mesmo a medo para o outro lado de mim. E tu não estás para me dar a mão.

Queria navegar até ti. Encontrar-te uma última vez na nossa praia do cabo do mundo. Dar-te a mão. Não precisas de me dizer nada. Basta que estejas ali tu, com a tua presença o teu perfume, o brilho do teu olhar. Basta-me isso. Já te disse que me contento com pouco e a tua presença já é mais que muito, já é tudo para quem não tem nada. E eu de ti não tenho nada. Só a saudade e o pequeno livro com dedicatória que me ofereceste um dia lá no sul junto ao Guadiana. Mas já o li não sei quantas vezes, preciso que me ofereças outro urgentemente. Preciso de ti. De te olhar, mesmo que já não olhes para mim da mesma maneira. Quem sabe assim não me curo de vez. Não tenho uma imensa desilusão, e assuma que tudo não passa de um labirinto confuso que eu construo dentro de mim para me sentir vivo. Quem sabe. Temos de fazer a experiência pois só experimentando se sabe e se aprende.
Existe um problema que é grave em tudo isto. É que o beijar-te não foi uma experiência. Ás vezes, nas noites onde me sinto perdido, envolto nos pesadelos, agitado, tu chegas e beijas-me de novo, eu sinto os teus lábios, a tua boca pequena em mim, o calor dos teus seios junto ao meu corpo, então sereno dissipam-se os pesadelos, finalmente descanso.
E isto é muito grave, porque não sei se imagino já, ou acontecemos os dois um dia. Assim vivo sempre num dilema desde que foste embora. Se te perpetuo na memória ou te renegue. Mas és tu que me acalmas nas noites de temporal, nas noites de sofrimento quando me sinto com o corpo dorido, as minhas dores de costas que não passam, são uma espécie de hera trepadeira que me envolvem. Tu tens o dom de me acalmar. A tua voz serena-me. As tuas mãos que afagam são um linimento milagroso nas minhas costas. Toda tu és um milagre de amor que acontece, e eu que já não acreditava em milagres sinto as dores passarem pela imposição do calor das tuas mãos pequeninas.

Possivelmente esta é a ultima vez que te escrevo. Já não vale a pena, sinto que já não vale a pena confessar o meu amor por ti.
Este que é um amor puro. Branco. O amor puro é sempre branco, os outros podem ter todas as cores. Ás vezes são negros, mas isso não é amor verdadeiro, os amores negros são perigosos. Este é um amor branco verdadeiro, da cor do linho puro. Um amor que perdura para além da distância ou da saudade. Não envelhece. Eu sim. Desfaleço todos os dias. Imagino-te sempre perfeita. Ficaste parada no tempo, não envelheces, o teu riso tem ainda o mesmo timbre, o olhar o mesmo brilho, os cabelos o mesmo perfume, os teus gestos de manhã são os mesmos. Gostas de acordar devagarinho, eu observo-te ao acordar, gosto de passar os meus dedos nos teus cabelos espalhados na brancura dos lençóis, gostamos do branco os dois. Gostas de ficar frente ao espelho na casa de banho lavando lentamente o rosto. Eu gostava de te agarrar e beijar no pescoço. De envolver os teus seios redondos nas minhas mãos grandes. Estremecias sempre, e eu queria-te ainda mais…Gostava de ver como espalhavas o creme, para evitar as rugas dizias a sorrir. Ficas parada nesse tempo na minha memória. E hoje nem sei se vale a pena alterar esse tempo sublime e breve porque sei que não estamos mais iguais ou se nos iríamos reconhecer.
Estou a escrever-te neste computador que me tem acompanhado ao longos dos anos, também ele se ressente, mas vou trocando as peças, acrescentando memória, gravando e apagando no disco, em mim não consigo fazer isso. Ás vezes tenho vontade de carregar no reset e iniciar tudo de novo, na esperança vã que o tempo ande para trás e voltemos ao início. Sei perfeitamente que isso nunca vai acontecer por ser impossível, assim vivo com o possível no momento e com este computador por onde espero que surjas on-line, mas não surges nunca, ou se surges não é aqui no meu computador. Acho que também já não é importante isso.
Tenho medo de não te reconhecer, de seres uma estranha para mim. De eu ser um estranho para ti. Sei qual é a sensação de ser estranho na nossa terra. Sei por experiência pessoal porque o tenho sentido ao longo da vida. Já não me reconheço na terra onde nasci. Tenho medo que sintas isso por mim e eu por ti. Que já não sejas a mulher que amei um dia e que habita em mim num lugar secreto. Por mais que se estude o coração, a máquina fabulosa que é, nunca se chega a compreender o seu sentir. Dizem que se guarda o amor no coração, eu não sei onde guardo o teu amor, acho que és um todo em mim. O amor tem de ser inteiro não pode ser aos bocados, interrompido, isso não é amor, pode ser paixão ou outra coisa qualquer mas amor não é de certeza, pelo menos da forma como eu o concebo, grande, pleno, puro. Envolvente. O nosso amor foi assim, durou foi pouco tempo, foi breve mas forte, gravado a fogo, perdura escondido no meu corpo num lugar de acesso difícil. Sente-se, é isso. Sinto-te como um movimento perpétuo em mim.

Já não sei que faça. Dói-me a cabeça. Hoje acordei com a necessidade de te escrever. De saber de ti. De te querer. De te ligar. Tenho dias assim, acho que estou a ficar doente pois os dias assim são cada vez mais. Mais uma vez não o faço. Sei que não atendes por saberes qual o meu número. Podia ligar de um número privado, não o faço. Não o faço porque me parece mal fazer isso. Espero que um dia me atendas se eu ganhar a coragem para te ligar. Passar dos pensamentos aos actos. Não olhar só para os números mudos e frios no mostrador. Tenho de arranjar um telemóvel inteligente, que me leia os pensamentos e que por iniciativa própria te ligue, e que te diga o que já deves imaginar e eu não disse. Sabes. O que existe é uma falta de comunicação em nós, isso é o que existe. Mas respeito a tua opção o teres saído da minha vida sem uma despedida sem um adeus. Eu também não me despedi de ti. Ficamos a meio de nós, entendes, uma espécie de história interrompida. Falta-nos o fim. Fico sempre esperando que voltes, que a tua ida tenha sido um até mais logo, um até breve. O breve tornou-se longo e o longo tornou-se distante. A distância dilui-se no tempo o tempo já não existe em nós. Um dia escrevi sobre o tempo, umas palavras de que recordo só o nome: “O tempo que temos” acho que nunca leste o que escrevi. Tenho a impressão, quase a certeza que nunca lês o que escrevo. Eu também já não te envio nada do que escrevo. Faz anos que não te mando nada, que não partilho os meus escritos contigo, mas todos os dias quase como uma rotina diária ao abrir o pc o teu endereço aparece em primeiro lugar, já tentei apaga-lo mas arrependo-me. Pode ser que um dia me queiras escrever, ou possas de novo aparecer no msn, esta coisa nova que dá para teclar à distância e mascarar as saudades. Sei que estou bloqueado no teu pc, só pode. Um dia falaste disso, uma das últimas conversas que tivemos já a magoar os sentidos. Disseste e fizeste, não te sabia tão determinada. Mas admiro isso em ti, essa força que tens de não te amarrar a nada, de não teres saudades, de não olhares para trás para o passado. De seguires sempre em frente. Tu tens razão. Admiro-te por isso. A tua força. Eu já não sou assim. Tenho andado em busca de uma explicação para isso, para este meu sentir, para a dor que sinto, as saudades que incomodam, deve ser coisa da infância, só pode. Tive uma separação que me marcou em menino. Deve ser disso, as saudades que sinto devem vir dai. Hoje falo-te nisso. Quer dizer, não te falo, escrevo, e ao escrever liberto-me de mim, de ti, da memória conjunta. Tenho já dificuldade em recordar o teu rosto nítido. Tenho de fechar os olhos para te ter plena, abstrair-me do mundo ao redor. Mas isto é a evolução natural do tempo. O tempo tudo cura, tudo patina com a capa da distância dos anos. O envelhecimento é lento e progressivo, chegamos ao auge e depois definhamos. O tempo é o melhor remédio para tudo, e eu, à medida que vou tendo mais tempo para mim vou deixando de ter tempo para ti. Queria saber parar o tempo por uns tempos e ter-te de novo, fazer o tal reset milagroso. Depois deixava-te ir como uma andorinha que parte no início do Outono. Reparo que as que por aqui faziam os ninhos já partiram, estamos no Outono, nem me dou conta do tempo. Eu vivo, não existo. Deve ser isso, esta falta de atenção ao que me rodeia. Escrevo-te enquanto escuto musica do Leo Ferré, “Cette Blessure”, gosto de escutar as musicas do Leo, falei nisso um dia, dizias que não eram musicas para a tua idade, eu sei, temos uma diferença de idade que se nota mas não é importante. Gostavas de me oferecer a musica que gostas de ouvir, agora não sei se gostas das mesmas, ensinaste-me a conhecer novos grupos, novos estilos. Durante não sei quantos meses só tocaram os teus cds, sentia-te assim mais próxima. Mas afastaste-te, até porque eu comecei a saber de cor cada faixa de cada cd. A coisa começou a tornar-se repetitiva, e na música como no amor não podemos ser repetitivos sob pena de definharmos, de entrarmos num círculo rotineiro e perigoso que tende ao extermínio do amor e á abolição da música. Assim mudei os cds, fui ás compras, escolhi alguns dos mesmos grupos, penso que tu também gostas destes que comprei, fica a duvida e a impossibilidade de saber a resposta. Também comprei novos livros que leio. Livros diferentes dos que costumava comprar e ler, já não leio livros que falam dos barcos antigos e do património que permitiu o nosso reencontro, lembras? Agora compro livros de autores da moda, alguns que falam do amor, alguns que nem sei do que falam mas também isso não é importante, o importante é que leia e me distraia de ti. Dou-me conta que tudo o que te escrevo, tudo junto parece um livro. Pena eu não ser um escritor famoso, se o fosse dedicava-te um livro, escrevia para ti um livro com dedicatória, e isso seria o motivo para ir em tua busca, para te oferecer o livro, seria um motivo mais que suficiente para fazer isso. Como não sou escritor, não te escrevo o tal livro em tua memória com dedicatória, nem vou em tua demanda. Como vês tenho quase tudo contra mim…Digo quase porque não desisto. No dia que desistir deixo-me afundar juntamente como o navio dos meus sonhos e afogo-me de vez, afinal o mar corre-me no sangue e é lá o meu último lugar, no mar profundo. Não sei se gostas do mar, acho que nunca falamos disso em pormenor, gostavas de me acompanhar na beirada da praia no cabo do mundo e apanhar beijinhos, aquelas conchas pequeninas e mágicas. Mas isso não quer dizer que gostes do mar da mesma forma que eu, ou o sintas como eu. Mas também não é importante saber isso de ti. Dou-me conta que não sei nada de ti. E isso assusta-me. Assusta-me não saber nada de ti, e assusta-me o já não ser importante o saber algo de ti. Parece uma contradição tudo isto. E é, somos uma enorme contradição, assim anulamo-nos, não nos queremos, não nos amamos. Aqui discordo. Eu ainda amo, não me adianta é rigorosamente nada, o que é outro universo bem diferente do universo onde te guardo e habitas em mim. Já te falei disso no início das minhas palavras.
Acho que estou a ser extremamente monótono. Repetitivo, acho que mesmo estúpido. Mas peço-te desculpa por te maçar com estas palavras que escrevo, não é uma carta, não tem o propósito de ser uma carta, é mais uma história nossa, à qual eu tento dar um final feliz como todas as historias de amor que se prezem. Não vou é terminar com a frase: E foram felizes para sempre…Porque não corresponde à verdade. Ainda estou a tentar descortinar um final para nós, um final onde eu não me sinta vencido ou impotente. Porra! Na lei dos homens, os homens ganham sempre ou não é assim. No amor e na guerra, devíamos ganhar sempre, afinal somos o sexo forte. Quer dizer, sei de alguns que ganham sempre, ás vezes leio isso nos tais livros que comprei, mas fico com a impressão que não falam de amores brancos, falam de amores com outras cores, e para mim o amor é branco, não vou repetir de novo o que já te disse atrás e penso ainda recordas. Tu ganhas-me em matéria de amor. Mas também não deve ser um facto importante a esta distância. Eu não vivo, existo. Lembras? Na maioria dos dias sobrevivo, o que já é uma enorme vitória pessoal, assim também sou feliz, pode ser pouco, mas para mim já é muito. Sobrevivo sem ti. Aprendi a não te buscar em cada rosto de mulher. A não olhar nos olhos directamente., A não olhar o céu sempre que escuto um avião, já me habituei porque moro num sitio onde eles passar regularmente. Também cresci por dentro e envelheci por fora, mas não me importo. Tu é que estás igualzinha para mim. Não tenho uma foto tua para comprovar isso, as que tinha perderam-se um dia, uma história que não quero recordar. Até porque a minha memória ao contrário do computador não dá para acrescentar. Noto que está em movimento decrescente a esvair-se, fica só a memória antiga, a memoria presente é fugaz, como clarões que passam e isso traz-me muitas dificuldades no dia a dia. Acho que também isto se deve ao facto de ter abusado em novo do mergulho em profundidade, as minhas apneias prolongadas ao limite do folgo, durante anos, os anos intensos que vivi no Algarve, agora o cérebro ressente-se da falta de oxigénio desses tempos…a cabeça não tem juízo e o corpo paga. Pode ser mais tarde mas paga, dou-me conta que paga. Adiante que não quero falar-te de mim, ainda se fossem coisas bonitas, agora estas coisas que não são importantes. Se calhar é porque já não sei o que te dizer mais, além de dizer quer me apetecia ir até ti hoje. Mas é uma tarefa impossível eu sei. Vou de memória como tenho feito estes anos todos. E tu estás em cada sítio onde pouso o olhar. E ás vezes, descanso o olhar em ti. Tu não estás é certo, mas é como se estivesses, és como eu queria que fosses. Perfeita. Ao redor o mundo é que é imperfeito, e eu como faço parte desse mundo também sou, cheio de arestas vivas que cortam ao toque, por isso foste embora, com medo de te cortares. Eu sou uma espécie de vidro reciclado grosseiramente, daqueles cheios de bolhas de ar prisioneiras por dentro. Tem graça que é assim que me sinto muitas vezes. Prisioneiro desse mundo paralelo, encerrado numa bolha de ar. A diferença é que por lá o ar está rarefeito, perigoso, pouco, e eu noto a arritmia em mim, o desfalecimento, a vertigem, a embriaguês da narcose. Vou ao fundo. A custo liberto-me do lastro como tenho feito muitas vezes e subo à superfície, quase a sucumbir, os pulmões a arderem, a quererem sair do peito. Queimam por dentro. Nunca faças uma coisa destas por favor, eu fiz por sobrevivência, para me testar, para saber os meus limites, agora não faço porque tenho já medo, e, descobri que afinal não tenho um coração perfeito, as batidas que sentia, lembras, eram prenuncio de algo. Faz tempo despedi-me do mergulho. Agora vivo das lembranças, da liberdade que sentia, do prazer que era. Já não é, porque a vontade ainda é muita de ir de novo para o silêncio azul. O mar puxa-me para ele porque ele sabe que o amo e principalmente o respeito, pronto! Revelo-te, não sei se alguma vez desconfiaste deste meu amor pelo mar. Não existe ciúmes, ele está sempre lá, eu, é que sou um marinheiro muito ausente mesmo. Não te vou dizer para que não tenhas ciúmes deste meu outro amor, seria extremamente ridículo dizer-te isso. Até porque tu já não me tens amor, que eu sei, eu sinto essa verdade, estou quase como uma balança defeituosa, de dois pratos mas só com um, portanto inútil. Não pesa, finge, e os pesos estão errados por lhe faltar a tara. O meu amor de respeito pelo mar não faz concorrência desleal com o que sinto escondido por ti. São diferentes. Um de existência, outro de sobrevivência. Sobrevivo sem ti. Vê lá a imensidão deste amor. Aqui ele toca-se, as tais linhas paralelas que ás vezes falo, aqui tocam-se finalmente. A imensidão do meu amor por ti confunde-se com a imensidão do mar que amo. Ás vezes, ao olhar o horizonte és tu que vejo caminhar sobre as ondas lá onde o sol se põe, na linha do horizonte, e vens resplandecente, é por isso que me farto de fotografar o por do sol, a ver se de uma vez por todas fico com uma foto tua mesmo distante, uso um zoom de dez vezes e mais, o digital, e a máquina no máximo das definições possíveis e impossíveis, mas nunca apareces na foto, só os meus olhos te vêem. Assim não posso provar nada. Que te vejo a caminhar sobre o mar. Passo por louco. Mas só o Cristo tinha o dom de caminhar sobre as águas, e acalmar os mares, e multiplicar os pães, e transformar a água em vinho, e ressuscitar os mortos. Estou meio moribundo dou-me conta. E não era isto que eu queria hoje, queria ir até ti com todas as forças, no máximo do meu vigor. O mais alerta possível nos sentidos. Excitado até, tu sabias como me dar a volta, ou me excitar…Às vezes ainda me dizem para não me prender ao passado. Como pode ser possível não me prender. Se não me prendo fico vazio, sem nada, será isso viver? Um homem vive vazio de nada? Eu não vivo, vivo com pouco, não sou de muitos gastos, a tua memória alimenta-me, não será um manjar, será um pão ázimo, sem fermento, uma espécie de pão da última ceia, portanto respeito este pão que me alimenta o suficiente para me manter vivo e lúcido. E quando penso em ti, tu renasces porque o meu espírito que é livre te visita e vela por ti para que nada te falte, para que te sintas feliz. Porque se estiveres feliz eu também estou. Amor é isso. O meu amor de branco, como gosto de o ver é isso. Uma dádiva de partilha sem algemas, sem prisões, livre como o pensamento. Confesso que por momentos te queria prender nos meus braços como antigamente, mas isso sou eu a cometer um pecado egoísta. Tu és livres de voar. Não voaste, foste de avião, eu fui levar-te ao aeroporto. Nunca mais lá voltei àquele aeroporto, dizem que já está diferente, as tuas pegadas na porta de embarque já não existem, substituíram o piso do chão e diariamente lavam com uma máquina que põe o chão a brilhar. Perdi portanto o teu rasto. Não sei efectivamente por onde te procurar. Na tua rua ninguém sabe de ti, só lá passei recentemente. As janelas estavam com os estores cerrados. Tu não estavas. Mas se estivesses era como se não estivesses. Vieste uma vez pelo natal lembras. Quando ligaste a dizer que me querias ver e eu fui, fui demasiado depressa acho que em excesso de velocidade. Excesso de amor por ti. Vim embora devagar. Lentamente. As separações a mim custam-me muito. Não gosto de me separar de nada mas separo, as coisas acabam naturalmente, são como as flores colocadas na jarra viçosas no momento, depois murcham e deitamos fora. Desculpa eu ter deixado morrer as flores que te ofereci. Mas foi impossível fazer com que elas vivessem eternamente. Foram cortadas do tronco da roseira, a partir desse momento tinham o destino traçado e efémero. Perdoa-me por isso. Podia ter guardado e seco as rosas envoltas num jornal, como fazia nas aulas de ciências quando estudava as plantas. Não me lembrei e deitei-as ao lixo. A saída mais fácil. Afinal tu não estavas e as rosas já estavam todas caídas, as pétalas secas no chão. Deu uma trabalheira limpar tudo. Também já escrevi sobre este episódio que se passou. Não sei porque recordo tudo isto agora, quando o que eu queria hoje era ir até ti. Mas tu foges sempre, parece que estás do lado de Matosinhos e eu do lado de Leça, e temos a ponte móvel aberta permanentemente. Assim não consigo chegar à tua beira. Já viste a volta que tenho de dar. Quando chegar tu já não estás á minha espera por pensares que eu não vou. Eu vou, demoro é muito tempo porque vou a pé pela ponte nova, e demoro-me a olhar os navios no porto a descarregarem. Fascinam-me os navios. Sonho com viagens que nunca fiz. Mas posso sonhar. Ainda posso sonhar. O problema que verifico no sonhar é que me perco de ti, já não estás em sitio nenhum. Não devia sonhar com barcos e partidas. Devia sonhar contigo a todo o momento. Mas isso era privar-te da tua liberdade. És livre como o pensamento. Quero-te livre para cresceres, porque em mim ainda és como naquele tempo, a mulher perfeita na plenitude da beleza, não envelheces. Estás numa cápsula do tempo, uma espécie de épave, como as que encontro nos mergulhos arqueológicos, onde os destroços permanecem incólumes há séculos, e assim podemos reconstituir a história. Só não reconstituímos o sentir dos esqueletos que por vezes encontramos, os ossos não falam, são o testemunho só. Lembro-me da Papoa em Peniche. Esse é um testemunho que ficou, foram uns amigos que estudaram o naufrágio. Amigos que não revejo, faz anos. Mas tudo isto são fugas minhas a ti. Tudo são pretextos para te prender, para que te interesses pelas palavras que escrevo, sei perfeitamente que não é uma área que te interesse. Te apaixone. Eu, é que tinha a leve esperança que tu gostasses do que eu gosto. E gosto de poucas coisas acredita. O mais vou convivendo delicadamente com elas, uma espécie de fio da navalha. Também escrevi um poema com este nome; O fio da navalha. Já nem sei porquê, mas as coisas saem sem que eu me dê conta, acho que as palavras não são minhas. São de alguém que me usa para as alinhar na escrita para que se percebam. Fico muitas vezes com essa impressão, por não me reconhecer nas palavras escritas. Por não me lembrar delas depois, por não conseguir de memória dizê-las num acto de declamação, como o que assisti um dia, num almoço, o dia que passei perto da tua casa como já falei atrás. Podia ter tocado á campainha. Mas já não sei o andar nem o número nem nada. A minha memória atraiçoa-me muito. Sei que escrevi num papel a direcção certa, mas também não sei onde o guardei. Um dia aparece amarelecido pelo tempo e fora de prazo…
O tempo de hoje era para ir até ti. Em tua demanda. Uma espécie de Dom Quixote em demanda dos monstros que rodopiavam. A imagem não vem a propósito, mas à tempos, numa das minhas viagens ao mediterrâneo, vi os geradores eólicos alinhados a girarem nas suas rotações certas e lentas, e lembrei-me disso, o susto que o Sancho Pança, o fiel escudeiro teria para convencer o seu amo a não investir contra aqueles monstros…Mas o Dom Quixote era um cavalheiro sonhador, gostava de defender as donzelas. Eu também sonho, só já não encontro as donzelas daqueles tempos, e nem tenho escudeiro, nem ando a cavalo. Mas sei como são os moinhos de vento, isso sei. Porque em pequenino levava o milho com a avó para moer. Mas isso também já não interessa. O importante és tu de novo, e esta é certamente a ultima vez que te escrevo desta forma pública. Sabes, tenho a secreta esperança que te disponibilizes a ler o que te tenho escrito ao longo destes anos. Que o teu coração se enterneça e possa receber noticias tuas a dizeres que te encontras bem, mesmo que já tenhas envelhecido como eu, mesmo que tenhas um corte de cabelo diferente, ou tenhas mudado de perfume, por o que eu gostava já não ser o que gostas actualmente.
Acho que a dor de cabeça se dissipa aos poucos. Vês o que me fazes ainda, mesmo à distância. Basta-me pensar em ti com desejo, com amor, para as dores desaparecerem. Para me sentir vivo, para esboçar um sorriso, acho até que o olhar fica mais brilhante quando penso em ti. Só não sei se será mesmo amor o que sinto ainda, porque, dou-me conta, não vai a lugar nenhum isto que sinto. É uma espécie de dependência, uma droga desconhecida que cria habituação. Uma obsessão. Tenho rapidamente de encontrar uma clínica onde me interne e cure de ti. Levar uma transfusão de sangue completa para que o coração não descubra o caminho até ti, um sangue frio, impessoal, sem sentimentos. Uma espécie de plasma sintético. Uns glóbulos brancos pouco brancos, e uns vermelhos pouco vivos. Pode ser que seja a cura, porque o que sofro é uma doença rara, não vem nos livros de medicina. Não se estuda na faculdade. Sente-se só. Tão simples como isso. Sente-se só. E porque para amar são precisos dois, eu não amo porque estou só.
O mais nem sei que escrever, queria só que soubesses que hoje acordei com a vontade estranha de ir em tua demanda, chegar a um cais onde tivesse um veleiro, soltar amarras, içar o pano e atravessar o atlântico em tua demanda. Queria fazer isso. Não o faço porque deixei o veleiro faz anos. Não é importante que o saibas. O importante és tu. O importante és tu. O importante és tu.
A primeira vez que te vi…
O telefone está mudo e neste pc tu já não habitas, eu é que persigo a tua memória, porque hoje ao acordar queria-te comigo e estou só. E agora vou de novo, já te escrevi esta longa carta de despedida. Já terminei a história, dei-lhe mais um capítulo. O oitavo. Não é o final que queria, entende, é o possível na tua ausência. O final perpetuo. Se voltares um dia então terminamos a historia. Eu só não sou capaz.

PS: Não é importante que saibas que te amo ainda.
Não é. É importante que te sintas feliz, isso me basta para ficar feliz também.

Até sempre meu amor…

João marinheiro , Outubro de 2006

Fotografia, Pedro Moreira/www.olhares.com

3 comentários:

Anónimo disse...

fogo!!!.. foi o que eu pensei ao aperceber-me do tamanho do escrito.fogo!!!foi o que me saiu ao acabar de o ler.fogo! esses teus dedos ardem.devorei com uma rapidez fluente,estonteante, de modo algum repetitivo,apaixonante.
saciei-me literalmente. não sejas egoísta,continua a escrever essa poesia deliciosa.bjinho.

Claudia disse...

Ainda bem que chegaste ao fim desta história... E é mesmo disso que se trata aqui, de uma história. Que não haja confusões. Não passa de uma história tua João. E algo me diz, que esta história nem devia de estar aqui neste sítio, algo me diz...
Mas fico contente por terminares. Sei que há muito que o querias fazer...

Sei que não é justo a ausência da minha parte. Mas não é por mal...
Tem a ver com tudo aquilo que tu não sabes, que porventura será tudo...

Mas não sejas injusto para mim, porque não fiz nada para merecer isso...

Obrigada pelas palavras.

Beijo

Anónimo disse...

Levei três dias, acho eu. Tr<~es ou quatro. Foi a minha leitura de fim de semana prolongado. E.. sobretudo depois de ter falado contigo, sei que esta história está no sítio perfeito João, está, onde devia estar e espero que venha a estar em mais sitios porque é simplesmente fenomenal o modo como compuseste assim a sequência dos vários relatos. A minha opinião já a sabes, e também sabes que não perco o meu tempo. Abraço-te e digo-te: não termines nunca, continua! Tu e a tua escrita são inseparáveis, e eu quero estar sempre aqui para to mostrar.
Beijos my João (com tua licença hehe)

joão marinheiro

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